jueves, 7 de octubre de 2010

BRASIL: LCP do Norte de Minas e da Bahia realiza seu 6º Congresso

Escrito por LCP do Norte de Minas e da Bahia / Resistência Camponesa.


Ter, 05 de Outubro de 2010

Abaixo a perseguição ambiental!


Abaixo criminalização da luta pela terra!

Sob essa bandeira realizou-se nos dias 28 e 29 de setembro a segunda etapa do 6º Congresso da Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e da Bahia. Levantando as bandeiras vermelhas da Revolução Agrária na cidade de Manga às margens do Rio São Francisco mais de 600 camponeses sertanejos deram mostras de sua força e determinação, reafirmando que essas terras são dos camponeses.
O processo do Congresso se realiza em duas etapas, a primeira o Encontro de Delegados com estudo e discussão pelos delegados representando suas áreas revolucionárias e convidados. Neste foi dividido em duas partes, a primeira em setembro de 2009 onde aprofundou-se sobre o papel de nossa organização e a segunda no início de julho de 2010 centrando a discussão sobre a ameaça representada pela política ambiental e aprovando um plano de luta para safra 2010/2011 na região. A partir do Encontro de Delegados todos os companheiros e companheiras retornaram à suas áreas, comunidades e povoados esclarecendo, mobilizando e preparando a luta de resistência contra mais uma tentativa de expulsão dos camponeses da região, convocando a realização da plenária de agitação e propaganda do Congresso.
Há décadas que as populações camponesas tem enfrentado toda sorte de perseguições por parte do latifúndio de velho e novo tipo, o agronegócio, e seu velho Estado; quando não pela ação armada de pistolagem e jurídico-militar nas infindáveis reintegrações de posse, de forma encoberta com o discurso ambiental, tão em moda na atualidade, mas que na região já percorre longos anos com a criação de Parques e Áreas de Preservação Permanente – APP e consequente expulsão dos camponeses das melhores terras.
Os interesses estratégicos de controle da água, dos recursos naturais e minerais, vêm sendo acobertados com a discussão se o norte de Minas e boa parte do sudoeste da Bahia, vegetação conhecida como Mata Seca, fariam parte do bioma Mata Atlântica sendo intocável ou não, conforme Decreto Federal.
Em meio ao processo eleitoral farsante, e com interesses dos latifundiários em jogo, deputados mineiros aprovaram uma Lei da Mata Seca, que sobrepondo o Decreto Federal e durante todo o circo eleitoral abafaria a gravidade do problema, estes posariam de defensores do pequeno produtor. O que não se fala é que a mesma Lei permite aos órgãos ambientais a criação de Parques, reservas e áreas de preservação conforme seus julgamento, ou seja, em nada alterou a situação dos camponeses que seguem perseguidos, impedidos de preparar roças no tempo certo, ameaçados com multas, e com a expansão da política de parques ambientais. Como já denunciado nos números 68 e 69 a situação do Trevo em Juvenília e a relação de processos de PA´s paralisados.
Sob o cerco ambiental centenas de milhares de camponeses não puderam produzir em 2009, criminalizando o plantio das roças, juntando-se a isso a falta chuvas no período da florada o que comprometeu as já diminutas roças, os camponeses não se dobraram e mesmo enfrentando uma estiagem de quase seis meses, convocaram o seu 6º Congresso com o objetivo de ampliar o debate e a resistência para permanecer em nossas terras.
Toda mobilização, preparação e realização das atividades do Congresso se sustentou no apoio e solidariedade dos camponeses e pequenos da região, e na força da organização camponesa. A alimentação foi feita com contribuições, doações das áreas, de comerciantes e apoiadores, e dos operários da construção civil de Belo Horizonte e da EPOMG (Escola Popular Orocílio Martins Gonçalves). Os boletins, faixas e cartazes, os transportes, cada gasto do Congresso foi debatido pelos camponeses que organizaram formas de contribuir e continuam em campanha para acertar todos os custos.
O dia do 6º Congresso
A sessão do Congresso reuniu camponeses das áreas que fundaram a Liga no Norte de Minas e companheiros que ingressaram na luta na própria preparação do Congresso. A confraternização e identidade entre os mais velhos na luta e os mais novos ficando expressa na realização de todas as tarefas, desde enfeitar o local, as filas para alimentação, a limpeza, a organização do local para dormir. Em tudo ficando evidente o reconhecimento de quem luta e a felicidade de nos encontramos, confirmando que a linha do movimento camponês combativo é justa e correta.
E ao contrário do que declarou Stédile no início desse ano, “que a luta pela terra perdera seu apoio na cidade e portanto o caminho não era mais a tomada de terras”. O 6º Congresso confirmou que os trabalhadores, operários, os estudantes, professores, intelectuais honestos, a pequena burguesia, estão sim ao lado de quem luta. Vieram operários do STICC-BH (Sindicato da Construção Civil), do núcleo da Liga Operária de Montes Claros, a FRDDP (Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo), MEPR (Movimento Estudantil Popular Revolucionário), representantes dos Centros Acadêmicos de Pedagogia e Ciências Sociais da Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros); companheiros que tem se aproximado da Liga nos últimos meses como a Federação dos Trabalhadores da Agricultura da Bahia, moradores de Ilhas no São Francisco, e representante de Comunidade Quilombola Tome Nunes na Bahia.

A chegada das delegações começou logo pela madrugada, quando se organizou a construção da cobertura do pátio para as atividades. Devido a situação precária das estradas e confirmações de transporte na véspera ocorreram atrasos de algumas delegações, os companheiros que já estavam no local foram conversando, enfeitando o local com faixas, cartazes e bandeiras; preparando para abertura após o almoço e passeata no final da tarde quando já estivesse mais fresco o clima deste sertão Norte Mineiro.

O hino “Conquistar a terra” levantou as bandeiras vermelhas e o profundo companheirismo em todos os presentes. As intervenções da mesa de abertura reafirmaram a decisão dos camponeses, o fortalecimento da aliança operário-camponesa na luta combativa, enfrentando a política de criminalização da luta pela terra e desmascarando a farsa das eleições com que tentam encobrir a miséria e perseguição contra o povo pobre. Como bem denunciou uma companheira do Poço da Vovó de Jaíba, “os ricos e políticos só se lembram de nós para duas coisas, quando estamos novos e temos força para trabalhar pra eles, e nas eleições para que a gente dê um voto”.
Após as intervenções foi organizada a passeata, em duas colunas de bandeiras vermelhas erguidas os camponeses percorreram as ruas da cidade cantando suas canções de luta, panfletando convocando as massas a lutar, convocando o boicote das eleições e denunciando a situação que vive o povo na região e no país. As colunas vermelhas se estendiam pelas ruas de Manga, e apesar de não haver movimento no comércio devido a alteração do horário da passeata, a população saiu das casas para receber os panfletos e ver os camponeses passarem demonstrando sua organização e confiança na luta.
No retorno já à noite se organizou as filas para o jantar e para o banho. Abrindo o microfone para os companheiros cantarem e se apresentarem, até um forrozinho animou a noite, quem se envergonhou de dançar apreciou (e também riu) com os passos e volteios dos dançarinos. Um clima de satisfação e serenidade entre famílias inteiras presentes ao Congresso, em que se percebia em cada rosto que a luta daqueles camponeses não se limitava a conquistar somente o seu pedacinho de chão, mas se estende a necessidade de cada camponês poder plantar e viver com dignidade.
A manhã do domingo chegou com grande expectativa, além da apresentação do plano de lutas da Liga e da nova coordenação, viria a apresentação do Grupo de Teatro “Servir ao Povo” do Para Terra I de Varzelândia. Após as cantorias que embalaram o café da manhã, todos se ajeitaram mais pra perto do palco para a apresentação.
O Grupo surgido das atividades da Campanha de Alfabetização da Escola Popular, é composto por jovens camponeses filhos dos alunos e da professora da área, preparou uma peça baseada na história da Aldeia Tatchai, uma Comuna Popular da China Socialista, que depois de enfrentar uma tempestade que destrói tudo, se organiza estuda, planeja e trabalha enfrentando as calúnias dos antigos latifundiários e contando como fator decisivo os homens e sua decisão.
Cada mudança de personagens, cada fala, nos emocionando e marcando em nossas mentes e corações aquela mensagem. Como muitos camponeses disseram, “nunca pudemos assistir um teatro e agora são os próprios camponeses e seus filhos que preparam, ensaiam e apresentam”.
Em seguida a mesa apresentou as resoluções do Encontro de Delegados que representa o plano de luta da Liga na região, abrindo para falações dos camponeses e sendo aprovado pelo congresso. A apresentação da coordenação geral, indicada também no Encontro de Delegados, foi seguida da leitura do “Juramento” repetido por todos camponeses e apoiadores presentes e do canto da “Internacional” com as bandeiras vermelhas erguidas bem alto demonstrando a confiança de que são estes camponeses que labutam de sol a sol, junto dos pequenos e médios, dos trabalhadores e operários, estudantes, professores, comerciantes e intelectuais honestos os verdadeiros construtores da “terra sem amos” entoada na canção.



LCP - Liga dos Camponeses Pobres do Norte de Minas e da Bahia

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