Camponeses
da LCP lutam por energia, estradas, regularização e outros direitos
Jaru, 28 de abril de 2015
No dia 27 de abril, na Câmara de Vereadores de
Jaru ocorreu uma reunião entre camponeses de várias áreas de Rondônia e
representantes do Incra, da Eletrobrás, do DER e da prefeitura de Ariquemes. A
reunião foi uma conquista do combativo protesto ocorrido no dia 9 de abril,
também em Jaru, onde camponeses fecharam a BR 364 por 9 horas, cansados de
serem “empurrados com a barriga” pelas autoridades (in)competentes, de terem
seus direitos desrespeitados, mesmo pagando impostos e produzindo 70% do
alimento que chega na mesa do brasileiro.
Participaram mais de 150 camponeses de Rio
Pardo (Porto Velho), áreas Renato Nathan 2, Raio do Sol, Canaã, Capitão Sílvio
e Vale Encantado (Ariquemes), assentamentos Renato Nathan, Zé Bentão, Maranatã,
Alzira Augusto Monteiro, Alberico Carvalho e Maranatã 2 (Corumbiara),
acampamentos Rancho Alegre (Vilhena), Cajueiro 1 (Machadinho D’Oeste), Cajueiro
2 (Vale do Anari), Monte Verde (Monte Negro), 10 de maio (Alto Paraíso), João
Batista e área Bacuri (Rio Crespo).
Os representantes do velho Estado assumiram
compromissos para cada exigência dos trabalhadores: energia, estradas e pontes
de qualidade, escola e posto de saúde nas áreas, regularização das terras
camponesas. Mas os trabalhadores estão espertos, pois sabem que tudo pode ficar
só na promessa e afirmaram que se os compromissos não forem cumpridos, fecharão
a BR novamente, com mais pessoas, com outros trabalhadores e com mais
combatividade.
Na reunião, nenhum policial esteve presente.
Esta foi uma exigência dos camponeses, que não são bandidos e sabem que lutar
não é crime. Os trabalhadores também não permitiram a participação de
politiqueiros. Cada vez mais, o povo percebe que eleição é farsa e que só com
pressão conquista seus direitos.
Energia já!
A reivindicação que teve mais luta foi a do
início das obras da 5ª etapa do Programa Luz Para Todos. O responsável da
Eletrobrás informou que as empresas licitadas se negaram a assinar o contrato e
que seria necessário fazer nova licitação, o que demoraria 90 dias. Os
camponeses se revoltaram com a falta de empenho da Eletrobrás em conseguir uma
solução e disseram que não sairiam enquanto não tivesse uma proposta melhor. O
auditório ficou pequeno para a justa indignação.
O representante fez várias ligações para seus
superiores e depois de algumas horas teve o seguinte resultado: a empresa vai
reavaliar a possibilidade de assinar o contrato, se isto não ocorrer, o prazo
para nova licitação diminuiu para 60 dias. A Eletrobrás também se comprometeu a
iniciar imediatamente sua parte do trabalho, antes mesmo da assinatura do
contrato com a empresa.
Foi uma conquista da união, organização e luta
camponesas, foi o exercício da verdadeira autoridade, daqueles que trabalham.
Não é de hoje que lutam por este direito. No
começo de 2010, representantes da Ceron prometeram aos camponeses do Canaã que eles assistiriam a Copa da Fifa daquele
ano em suas casas. Os projetos se iniciaram, mas logo foram suspensos. Em 2013,
camponeses de várias áreas dirigidos pela LCP, tiveram que ocupar a Eletrobrás
para pressionar pela retomada do Programa Luz Para Todos, que tinha sido
encerrado.
E enquanto as obras não iniciam, os camponeses
perdem frutas, verduras e alimentos por não ter refrigeração, enfrentam
estradas em péssimas condições para entregar o leite nos tanques, não podem nem
repousar após o almoço porque não tem um ventilador para espantar os mosquitos.
No assentamento Zé Bentão, com muito
sacrifício, alguns camponeses instalaram energia elétrica particular,
principalmente para funcionar resfriadores de leite. A rede é fraca, a energia
é interrompida constantemente, estragando centenas de litros de leite. E todo
prejuízo fica nas costas do dono do tanque.
Mas para grandes empreiteiras construírem
usinas o governo destina recursos à vontade, não fiscaliza nem pune pelas
dezenas de operários mortos nas obras e pelos milhares de desabrigados devido
às enchentes. Tampouco garante que tanta energia gerada atenda ao povo. Um
rápido levantamento feito em 2013 pela LCP e sindicatos indicou que 19 mil famílias
estão no escuro em Rondônia, mas a etapa atual do Luz Para Todos, se ocorrer,
atenderá apenas 6.400 famílias.
Rebelar-se é justo!
A revolta camponesa aumenta quando comparamos
com a situação dos latifundiários. Eles desmatam milhares de hectares, acabam
com a água usando irrigação e contaminando rios e lençóis freáticos com
fertilizantes e agrotóxicos. Recebem isenção de impostos federais e basta uma
simples garoa para que recebam seguro do ministério da agricultura e tenham
suas dívidas perdoadas. Não precisam pressionar as secretarias de obras para
terem suas estradas bem construídas e reformadas.
Segundo dados oficiais, o latifúndio produz
para exportação e só 30% de sua produção é de comida. Ocupam 76% das terras,
mas empregam apenas 26% da mão de obra rural. Apesar disto, ficam com quase 90%
dos créditos do governo para atividades rurais – previsão de R$156,1 bilhões
para 2015. Quanto aos camponeses, receberão apenas R$24,1 bilhões, mesmo
promovendo 74% dos trabalhos no campo.
O governo Lula/Dilma/PT assentou menos
famílias que o bandido FHC e ainda aumentou a violência contra aqueles
camponeses que se organizam e tomam terras, um direito constitucional. Durante
os 12 anos de gerência petista a Polícia Federal, a Força Nacional de Segurança
e o Exército passaram a atuar nos despejos de acampamentos, nas perseguições e
prisões de camponeses. E o mais grave, aumentou o número de lideranças
camponesas assassinadas.
Desde 2013, cidades dos quatro cantos do país
são sacudidas por grandes revoltas populares. Os trabalhadores não aceitam mais
tanto abuso, rejeitam as lideranças oportunistas que usam a luta para eleger
seus candidatos e conseguirem carguinhos. Novos movimentos e lideranças
honestos, combativos vão se forjando no fogo da luta verdadeira pelos direitos
do povo, por justiça e por um novo país. A bandeira de uma greve geral foi
levantada em várias cidades e sua preparação é crescente.
Não será o impeachment da presidenta, nem uma reforma política,
nem a farsa das eleições que vai mudar o Brasil. Tudo que vier destes
políticos, deste parlamento e desta justiça será para enganar, serão mudanças
só na aparência. Só uma grande revolução pode acabar com o sistema de opressão,
miséria e injustiça que reina no país.
E esta revolução já começou nos campos brasileiros, é a Revolução
Agrária, feita por bravos camponeses que tomam terras do latifúndio, cortam
por conta e distribuem para famílias sem terra ou com pouca terra, produzem de
forma cada vez mais cooperada e fazem Assembleias Populares para decidirem
coletivamente tudo o que lhes diz respeito.
Conquistar a terra, destruir o latifúndio!
Viva a Revolução Agrária!
LCP - Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
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