domingo, 26 de abril de 2015
Observações de um membro do Grupo Maoista Comunista no Segundo Encontro da inciativa por um comitê central de luta do Brooklyn (Servir ao Povo de Todo Coraçâo)
O seguinte texto é um relato e notas tomadas por um membro do Grupo Maoísta Comunista - EUA em uma reunião no Brooklyn, para discutir formas de luta contra a violência policial racista e todo o sistema de opressão e exploração racial e contra a classe operária norte-americana. Traduzido de forma inédita pelo blog, com enfoque na questão racial e na luta dos afro-americanos comunistas, retirado do blog da organização citada, "Maoist Communist Group". Boa leitura!
(colagem por R.B. da iniciativa por um comitê central de luta do Brooklyn)
Observações de um membro do Grupo Maoista Comunista no Segundo Encontro da inciativa por um comitê central de luta do Brooklyn
O Grupo Maoísta Comunista, iniciativa por um comitê central de luta do Brooklyn, tomou sua segunda reunião de massa. Por volta de 30 pessoas vieram para discutir problemas que se confrontam à comunidade, incluindo severas negligências dos senhorios, perseguição policial aos jovens e a mudança de classe da comunidade. Por várias horas os participantes trocaram experiências, propuseram ideais para a organização e ativamente se engajaram em debates ideológicos. Muitos participantes já atuavam em vários movimentos na comunidade. Um participante propôs juntar dinheiro para arrumar os problemas de seu prédio. Outro participante enalteceu a importância da educação para o povo e mandou a carta para escolas falidas.
Muitas participantes se questionaram: como levar a luta para os mais jovens, a força social dos proletários prevalecer à ideologia burguesa e se rebelar? A fraqueza da juventude mora no isolamento e limitação das perspetivas, reforçada pela falta de ideologia e política para barrar as mentiras da burguesia e dos supremacistas brancos.
O encontro serviu como um exemplo de democracia popular. Democracia popular demanda que nunca encobríssemos a luta ideológica por causa de fundamentos sentimentais por civilidade, mas que sempre fossemos ao limite dos nossos pensamentos e práticas. Uma dinâmica dessas de trocas de experiências e ideias é precisamente o que a democracia burguesa não nos permite. Democracia popular é o único caminho viável do qual uma unidade popular pode ser genuinamente organizada.
No final do encontro, um membro do GMC apresentou algumas observações aos participantes, transcrito agora na íntegra:
Nossas diferente lutas, contra a polícia, contra os chefes e contra os senhorios estão conectadas: como?
Nos ensinam todo dia a vermos o Estado como neutro. Porém o Estado burguês – não somente aqueles em que você vota, mas toda a máquina do Estado, dos recrutadores militares locais até o político local que tenta acalmar as massas após mais um assassinato policial. O Estado capitalista é uma ferramenta da classe capitalista, a classe dos donos dos negócios.
Assim como o Estado escravista era um Estado dos escravagistas; assim como o Estado feudalista era uma Estado dos senhores feudais... desse modo, o Estado sob o capitalismo é um Estado da classe capitalista. O Estado capitalista não é neutro. A noção que o Estado é neutro é um mito (assim como que o dever da polícia e nos servir e proteger). O dever da polícia é servir e proteger a classe majoritariamente branca dos capitalistas. Podemos ver isso se olharmos para as sociedades de classes do passado: ninguém diz que os cavaleiros dos senhores feudais eram neutros. Portanto é um absurdo pensar que a polícia é neutra.
No capitalismo a polícia tem uma função especial: ela é a lança afiada dos capitalistas para nos manter no nosso lugar de exploração. Nos deixando nesse lugar permite a classe capitalista de nos explorar ao manter o capitalismo.
O que queremos dizer com "exploração"? A classe capitalista vive do trabalho dos trabalhadores, assim como os escravagistas viviam do trabalho dos escravos; e o senhor feudal, dos servos. Exploração significa uma parte da sociedade vivendo às custas do trabalho de outra parte da sociedade. Isso significa que o capitalismo, assim como a escravidão e o feudalismo, é constituído pela luta de classes opostas. Trabalhadores e capitalistas apenas se relacionam de forma antagônica. Vemos isso nas lutas sindicais.
Porém nossa sociedade não é apenas capitalista, mas também supremacista branca. O sistema assim nasceu da exploração e subjugação dos negros, porto riquenhos, chicanos, nativos americanos e outros povos das ilhas do pacífico. Essas nações foram, por sua vez, sendo formadas através da história de sua opressão.
O nacionalismo negro está estritamente relacionado com a luta de classes. Os negros foram limitados às castas no Estado capitalista euro-americano. Isso impossibilitou a Nação Negra de ser socialmente estruturada, sendo somente mutilada. Hoje, a opressão da Nação Negra é visível na estrutura de classes, marcada por uma forte classe trabalhadora e uma fraca classe capitalista. Também podemos ver essa opressão nos presídios, na brutalidade policial contra nós. A opressão da Nação Negra foi uma forma que os capitalista brancos encontraram de reproduzir as necessidades do capital americano.
O que podemos concluir é que os trabalhadores negros sofrem uma dupla opressão:
1- Opressão nacional. Tem uma opressão dos capitalistas euro-americanos contra o povo negro como um todo
2- Exploração. Há um regime de exploração de uma classe capitalista contra uma classe trabalhadora multi-étnica.
Muitos ataques destinados à massa em geral começam como um ataque aos negros. Esses ataques incluem o desmantelamento de benefícios sociais, desregularização dos sindicatos e a criação de prisões. O sistema capitalista desmantelou vários benefícios sociais através de uma série de campanhas racistas que representam os negros como preguiçosos. Também aumentaram os investimentos em prisões estaduais com campanhas que representam o povo negro como violento. Desregularizaram os sindicatos com campanhas que mostram o povo negro como egoísta.
Esses ataques são destinados à nação negra e outras mais fracas, porém atinge toda a classe trabalhadora como um todo. Aprisionamento, fraco trabalho e redução de direitos trabalhistas afeta todos nós. Portanto é de interesse da classe oprimida como um todo lutar pela emancipação dos negros e outras nações oprimidas. Nossa divisão só fortalece o opressor, que sempre desejou transformar nossas diferenças objetivas em contradições subjetivas que limita nosso fortalecimento.
No mesmo momento, a luta negra só pode ser fragmentada no atual estado da luta de classes, dominada pela classe capitalista. Os totais direitos democráticos de auto-determinação, incluindo a formação de uma Nação Negra, só pode ser atingido pela derrubada da classe capitalista, e isso requer alianças com todos que tem interesses na revolução socialista.
O Estado, assim como sua polícia violenta, só existem para que a classe capitalista continue vivendo do nosso trabalho. Nosso dever, o dever das masses, é destruir todo lugar que o sistema pode nos aprisionar. Podemos começar com a formação de um comitê de luta que defenda nosso povo dos encontros diários com a violência dos policiais, despejos, demissões em massa e etc.
O caminho para a formação desse comitê é com encontros comunitários como esse. Qual o significado político desses encontros?
Nós últimos meses tivemos várias conversas com trabalhadores, inquilinos e outros da comunidade sobre vários problemas que enfrentamos diariamente, da negligência dos senhorios e despejos à perseguição que os negros sofrem nas mãos da polícia racista.
Dessas conversas tivemos a ideia de fomentar encontros para discutirmos a criação de um comitê de auto-defesa.
A importância política dessas trocas de experiências nos encontros devem ser apreendidos em vários níveis:
Nós podemos falar. Diferentemente do que enfrentamos na sociedade branca que nos cala, aqui temos a voz para discutir e trocar as experiências. No capitalismo a "liberdade de expressão" significa "liberdade para que os brancos ricos usem seu poder para formatar a opinião pública". Na TV, rádio e em sites não há a voz dos trabalhadores. Na política, temos apenas o direito de votar, o que responde à pergunta: quem será que vai ganhar o direito de governar e nos oprimir nos próximos anos? A democracia americana nada mais é que uma máquina de supressão. Uma democracia de massas é igual o que estamos fazendo aqui.
Podemos ver a natureza social da luta. Outro ponto positivo de nossos encontros é vermos que nossas experiências individuais são compartilhadas por tantos outros, que não somos apenas indivíduos, mas participantes de uma luta social. A natureza sistemática da luta significa que devemos nos unir com todos que queiram derrubar a forte classe capitalista. Temos muitos problemas, mas a natureza unificada do inimigo de classe faz com que esses problemas se tornem sistemáticos. O inimigo é poderoso, porque nós somos desunidos e desorganizados.
Ganhamos conhecimento. Falando das nossa realidade nos fará entendermos a natureza material da nossa opressão. Apenas com o um conhecimento concreto da nossa realidade nos fará hábeis a construir um poder revolucionário, a longo termo, transformando a realidade que nos confrontamos. O mais importante é o progressivo esclarecimento da natureza da classe capitalista. Somente um processo democrático pode nos proporcionar um conhecimento da cause dos problemas que devemos enfrentar coletivamente. Isso se deve ao fato de que em ultimo análise as idéias corretas vem tem sua raiz na luta dos povos.
Ainda mais, além das trocas de experiência, devemos estudar as experiências acumuladas há séculos através da luta contra a escravidão, regime feudal, inclusive lutas dentro do sistema capitalista. Somente recordando desses episódios, conseguimos entender a conjuntura da luta de classes e da tarefa revolucionária que nos defronta. Devemos tirar proveito do sucesso e das derrotas do passado para transformar o presente. A verdade não vem com indivíduos ou facções iluminadas, mas sim das experiências das pessoas (as dessa sala e as do passado). Nosso grupo, que organizou esse evento, é um grupo comunista. Isso significa que nosso objetivo é uma sociedade livre de toda exploração e opressão. Para os comunistas, tanto o processo de conscientização, quanto o de organização da luta estão fundamentados na luta dos povos. O revolucionário comunista Mao disse:
"De onde as idéias corretas vem? Elas caem do céu? Não. Elas são natas? Não. Elas vem da prática social, e somente dela. É a posição social que determina nossos pensamentos. Uma vez que as idéias corretas das classes avançados são apreendidas pelas massas, ela se transforma em uma força material que muda a sociedade e o mundo".
4. Nós podemos começar a nos organizar. O quarta significado político é que trocando experiências assim podemos prover o básico para formar uma organização genuinamente popular, comitês de luta, que podem lutar em várias frontes.
Nossa luta é com a classe burguesa e seu Estado. Devemos construir nosso poder por construir um movimento contra o inimigo. Mas para isso, devemos trazer unidade à nós mesmos, à classe trabalhadora.
Temos esperança de que esses encontros trarão unidade à nossa comunidade. União requer que juntemos nossas forças, que nos engajemos nas discussões e decisões coletivas. Vemos nessa sala um lugar para democracia popular que pode nos garantir a unidade. Apenas através da união que podemos tomar consciência de classe e nos constituir como uma força material.
Através da democracia popular aprendemos que união sem fundamento é insuficiente. O que é uma unidade sem fundamento? É uma unidade que não afirma a nossa independência, que não destrói de todas as formas o poder da classe dominante. Devemos depender somente em nós, em nada a não ser a nossa iniciativa enquanto trazemos a batalha ao opressor.
Essa unidade e o poder que emana dela deve ter como fonte o povo. Não nos unimos e contamos nosso poder através do Estado, da polícia, do chefe, do senhorio.
É através de nós mesmos que devemos tomar posse da nossa capacidade ofensiva para tomar frente à da classe burguesa.
A união é a nossa arma mais poderosa para transformar nossa opressão, nossa história.
A democracia popular, portanto, não deve ser um clube de conversação sem direção. Deve ser levado a uma forma ofensiva, combativa.
A essência da democracia popular não é o dialogo em si, o pluralismo, a expressão de sentimentos natos. Esses elementos compõem a democracia burguesa, que a nossa mídia promove todos os dias junto com instituições que tem como função perpetuar esse sistema. Democracia popular é o meio em que a direção da luta é centralizada, forjada em uma arma ofensiva dos povos contra a opressão.
Aqui devemos tomar como exemplo Ferguson, Missouri. Lá um policial matou uma criança simplesmente por ela ser negra. O povo dessa pequena cidade (menos de 21.000) se uniram através de sua raiva contra a execução. O povo avançou junto contra os porcos, militantes formaram seus comitês táticos para organizar um plano de combate, Bloods e Crips (gangues americanas) lutaram juntos para defenderem lojas locais contra saques, o povo providenciou primeiros socorros aos rebeldes feridos... dessa forma, o semi-organizado confrontou o Estado burguês.
Essa pequena rebelião perturbou a classe dominante da cidade. O Estado capitalista mandou a marinha para limpar as ruas das demonstrações, atirando balas de borracha e gás em quem cometeu apenas um crime: falar. Quando isso não funcionou, o Estado mandou Jesse Jackson e Al Sharpton para pacificar a multidão e tiveram que sair correndo da cidade.
A união combativa do povo foi apenas reforçada com essas tentativas pífias de reprimir e pacificar a multidão. Se as massas de Ferguson podem chaqualhar as classes dominantes, podemos apenas imaginar o que tal união pode fazer em Nova Iorque.
Com isso em mente, devemos orientar nossa discussão em direção à construir uma forte, democrática e militante organização que poderá lutar em várias frontes, mas que terá apenas uma ambição: crescer nosso poder próprio para que nossa lutas diárias possam enfim tomar um caminho revolucionário.
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