sábado, 28 de mayo de 2016

BRASIL: Virada ideológica onde, cara pálida? (A Nova Democracia, 2016)



Nota do blog: Reproduzimos, do blog da Redação do Jornal AND, o artigo, de autoria do prof. Fausto Arruda, que, segundo o local retirado, sairá na página 3 da seguinte edição de AND (nº 170).
Foto emblemática: outrora aliados, agora em pugna, porém, sempre e todos comprometidos com a subjugação nacional ao imperialismo principalmente ianque. Foto adicionada por nós.


Virada ideológica onde, cara pálida?

Fausto Arruda
Alguns analistas de meia tigela, daqueles que só veem as coisas e os acontecimentos pela aparência, chegaram a afirmar que a substituição de Dilma Rousseff por Michel Temer tratava-se de uma grande virada ideológica.

Que ideologia é essa?

Afirmação dessa natureza só poderia vir de alguém que esteve ausente do planeta nos últimos 13 anos e meio. Alguém que não viu Luiz Inácio assinar a “carta aos brasileiros”; que não viu o gerenciamento petista dar prosseguimento ao de Cardoso na condução da política de subjugação nacional; que não viu a dívida pública saltar de cerca de 600 bilhões de reais para mais de três trilhões de reais; que não viu a promessa de reforma agrária ser substituída pelos acordos com o agronegócio; que não viu a desindustrialização e a primarização da produção nacional; que não viu a educação superior ser entregue a grupos privados, inclusive, internacionais; que não viu a cooptação das centrais sindicais com sua corporativização para possibilitar a perda de direitos trabalhistas e previdenciários dos trabalhadores; que não viu a armadilha consumista do crédito fácil para favorecer a indústria automobilística e da linha branca, transnacionais, em detrimento das reais necessidades do povo; que não viu as empreiteiras serem favorecidas com megaprojetos de interesse de mineradoras, principalmente, em prejuízo de populações indígenas, camponesas e quilombolas; etc…

O prisma da luta de classes

Desde quando a sociedade dividiu-se em classes antagônicas que o posicionamento ideológico dos indivíduos e dos partidos correspondem aos interesses de um ou de outro lado das classes em luta.
Sendo a característica principal do Estado o uso da força para submeter as classes dominadas, o que dizer do discurso de Dilma inaugurando uma “Unidade de Polícia Pacificadora” (UPP) no Rio de Janeiro, ocasião em que ela falou-se encantada com as UPPs, dizendo que as implantaria em todo o país? E mais, o que dizer do envio da “Força Nacional de Segurança” para reprimir e matar os indígenas em luta e os camponeses, como ocorreu no gerenciamento da petista Ana Júlia Carepa no Pará, entre 2007 e 2011.
O prisma da luta de classes, objetivamente, é o definidor da posição ideológica de indivíduos e partidos. Assim, não precisa ser “cientista político” (talvez melhor não sê-lo) para examinar os procedimentos relacionados acima e concluir que os dois lados dessa pugna jogam água no moinho do latifúndio, da grande burguesia e do imperialismo. Estão, pois, em total consonância com a ideologia burguesa.
Diz o dito popular que ninguém pode servir a dois senhores. Supondo, como querem os analistas de meia pataca, que tenha havido uma virada ideológica: como justificar a presença de Henrique Meirelles, agente do FMI, presente em dois mandatos de Lula e agora estando como “superministro” de Temer?
Em se tratando dos interesses fundamentais do povo e da Nação brasileiros, que diferença pode ser apontada diante da comparação do gerenciamento de turno petista com os demais que o antecederam e, também, deste seu temeroso sucessor? Nenhuma diferença, pois, os fundamentos do apodrecido sistema político brasileiro estão dados pelo seu caráter semifeudal e semicolonial. Condição que o PT e seus congêneres oportunistas eleitoreiros aceitam e reproduzem. Condição que não pode ser quebrada pelo oportunismo, porque para fazê-lo pressupõe uma revolução a qual eles renegam por desfraldarem a bandeira da burguesia, com seus mitos de “democracia como valor universal” e “Estado democrático de direito”.

Matriz ideológica

A natureza do Estado de uma sociedade define sua matriz ideológica, pois, estando sob o domínio de determinadas classes, a sua ideologia reflete a ideologia das classes que o dominam. Assim, na medida em que durante os últimos 13 anos e meio o “Partido dos Trabalhadores” prestou inestimáveis serviços ao latifúndio, à grande burguesia e ao imperialismo, como poderia haver uma virada ideológica ou, como sugerem os petistas, um “golpe de Estado” se, sob o gerenciamento de turno de Temer, a natureza do Estado não sofreu e nem sofrerá qualquer mudança, como não sofreu quando Cardoso passou a faixa presidencial a Luiz Inácio?

A ideologia burguesa do PT

Sinceramente, fazendo uma análise concreta da situação concreta, como propunha Lenin, responda, caro leitor: tirante algumas propostas aprovadas em congressos “pra inglês ver”, as quais jamais foram postas em prática nos gerenciamentos petistas, o que teve, na prática petista, de ideologia proletária ou popular?
Ao usar e abusar de termos como “republicano”, “democrático e popular” etc., os oportunistas do PT, pecedobê e assemelhados, na verdade, encobrem sua ideologia burguesa com fraseologia oca.

Revolução Democrática e Nova Democracia

A ideologia proletária, ao contrário da ideologia burguesa com seus mitos, é verdadeira por ser científica, e é científica por ser ancorada no materialismo histórico e dialético. Colocando a prática como critério da verdade, ela aponta para o fato de que só através da Revolução Democrática, Agrária e Anti-imperialista, a Nova Democracia, as nações oprimidas e exploradas pelo imperialismo, como o Brasil, poderão se libertar, completando a própria formação nacional, alcançando a soberania enquanto Nação e a verdadeira democracia. Seu programa propõe revolver os fundamentos da velha sociedade e do apodrecido Estado, liquidando os privilégios seculares das classes dominantes, alocando os recursos provenientes da produção nacional em favor do melhoramento geral e imediato da vida do povo massacrado na velha ordem semicolonial/semifeudal de exploração e opressão.

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