miércoles, 20 de noviembre de 2013

BRASIL: Denuncian torturas contra camponeses em Rio Pardo.

Missão de solidariedade denuncia torturas contra camponeses em Rio Pardo
Escrito por CEBRASPO - Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos
O distrito de Rio Pardo fica na região norte de Rondônia e surgiu em 1998, a partir da migração de camponeses vindos do sul do estado em busca de melhores condições de vida e de trabalho. Estes camponeses foram estimulados pela nova frente de colonização em que centenas de famílias de capixabas, mineiros e baianos se deslocaram para a região de Buritis. O distrito de Rio Pardo fica cerca de 330 Km da capital Porto Velho e a 90 km da cidade de Buritis que é seu centro econômico.
A população de Rio Pardo, Rio Branco, Jacinópolis, Jacilândia, Rio Alto, Minas Novas é composta de trabalhadores que apostaram tudo que tinham nestas terras depois de viverem em várias partes de Rondônia. São camponeses, pequenos comerciantes, professores, profissionais liberais e pequenos madeireiros que produzem riquezas com seu esforço e sacrifício diário, sofrem com a falta de estradas, com falta de hospitais, falta de escolas e com as constantes ameaças de despejo por parte do Estado. Toda esta região é muito rica em terras férteis, madeira, minérios, recursos hídricos e se situa numa longa faixa de terras que se estende até a fronteira da Bolívia.
A região é marcada por intensos conflitos agrários com dezenas de ocupações de terra e enfrentamentos com o latifúndio e seus bandos armados. Nos últimos anos morreram assassinados os camponeses Maninho, Oziel Nunes, Oséas Martins, Dercy Francisco Sales, José Vanderlei Parvewfki, Nélio Lima Azevedo, Élcio Machado, Gilson Teixeira Gonçalves e Renato Nathan. Sem contar as constantes humilhações, perseguições, abordagens e prisões ilegais e torturas que sofrem os camponeses desta região nas mãos da polícia.
No último dia 16, uma missão de solidariedade esteve na cidade de Buritis e no distrito de Rio Pardo a fim de averiguar a situação dos moradores, após operações do ICMBio (desmembrado do IBAMA), Força Nacional e outras forças policiais. A Missão era formada por advogados e representantes da Abrapo – Associação Brasileira de Advogados do Povo, do Cebraspo – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e da CPT – Comissão Pastoral da Terra. Conseguiram tirar fotos, gravar vídeos e o mais importante colher o relato de camponeses, pequenos comerciantes e funcionários públicos que presenciaram violências de todo tipo contra o povo trabalhador. Muitos moradores tinham receio de falar, com medo de represália policial. Como a Missão ficou apenas 3 horas em Buritis e Rio Pardo, muitos fatos ainda precisam ser esclarecidos.
Primeiro a Missão esteve no hospital municipal de Buritis e foi informada que apenas o soldado da Força Nacional foi atendido, mas já estava morto, provavelmente em função de uma hemorragia causada por um disparo de arma de fogo no tórax. Nenhum camponês foi atendido no hospital, porém alguns moradores de Buritis relataram a possível existência de feridos dentro da área Rio Pardo, mas que temem buscar atendimento e sofrerem represálias do enorme cerco policial na região. O único caso confirmado é de um camponês que foi preso durante a operação e sofreu um disparo de arma de fogo efetuado pela polícia.
A caminho de Rio Pardo, a Missão foi abordada numa das barreiras policiais que controlam o acesso à área e foi acompanhada por uma viatura da COE todo o tempo que esteve em Rio Pardo.
A Missão foi recebida por moradores locais e realizaram conversas e entrevistas, colhendo informações importantes que desmentem a versão do monopólio dos meios de comunicação que tenta esconder que a origem do conflito da semana passada foi o não cumprimento do acordo que os governos Dilma Roussef (PT) e Confúcio Moura (PMDB) firmaram com as famílias de Rio Pardo no ano passado.
Anos de abusos do ICMBio foram o estopim para a revolta camponesa
Na quarta-feira, dia 13 de novembro, quase 200 agentes do ICMBio e policiais da PM e da Força Nacional chegaram à Rio Pardo, sem ordem judicial, para despejar os camponeses que vivem e trabalham há mais de 14 anos nas terras. A operação prendeu 10 camponeses e várias motocicletas e montou bloqueios para tentar impedir a circulação de moradores. Os camponeses derrubaram pontes e destruíram dois prédios que seriam bases operacionais da Policia Militar e órgãos de fiscalização ambiental em resposta as prisões. Comerciantes do vilarejo fecharam as portas por 2 dias em protesto à operação violenta. O povo de Rio Pardo não quer repressão, quer terra, hospital e escola. Estas reivindicações podem ser lidas nas pichações no que restou das paredes do quartel policial.
Na quinta-feira, dia 14 de novembro, três viaturas da Força Nacional se deslocaram à Rio Pardo, para reforço da repressão. Uma viatura ficou pendurada numa ponte cortada pelos moradores. Irritados e com truculência, policiais prenderam mais 3 camponeses que circulavam pela estrada. Isto revoltou ainda mais os moradores, centenas se reuniram e se organizaram para impedir que os presos fossem levados para Buritis. A polícia disparou balas de borracha e bombas de gás e efeito moral, mas eles eram a única força policial no local e não conseguiram enfrentar os camponeses que reagiram com pedras, paus, rojões, escudos e fogo.
Após algumas horas de confronto conseguiram recuperar as motos apreendidas e libertar os 3 camponeses presos. Uma viatura da Força Nacional foi incendiada e outras também foram danificadas por pedras e paus.
Os policiais tiveram que sair correndo, na fuga desesperada deram vários tiros de fuzil nas casas e comércios e perderam armamentos e munições pelo caminho.
Os efetivos da Força Nacional que atuaram em Rio Pardo são os mesmos que reprimiram os operários grevistas de Jirau e Santo Antônio e ajudaram a despejar acampamentos de camponeses em luta pela terra.
O ICMBio, há décadas persegue camponeses, com humilhação, destruição de roças e casas, prisões e multas abusivas. Causando prejuízos enormes à economia local de pequenos comerciantes, pequenos e médios proprietários e pequenos madeireiros. Em todas estas ações criminosas o povo respondeu com fechamento de rodovias, prisão de helicóptero do Ibama, prisão de caminhões de madeira, manifestações em Buritis, queima de viatura do Ibama, etc.
A ministra do meio-ambiente, Izabella Teixeira, no conforto de seu gabinete em Brasília, talvez não saiba da disposição dos camponeses de resistirem nas terras e disse após os conflitos que os moradores serão retirados de Rio Pardo e que não iria interromper as ações repressivas. Discurso demagógico para dar satisfação a opinião pública internacional, pois ao mesmo tempo que o governo fala em preservação, na prática privilegia o agronegócio e a devastação feita pelos grandes latifundiários e ataca violentamente o povo trabalhador da Amazônia. Por que o ICMBio e as forças policiais não reprimem grandes latifundiários e políticos estaduais que possuem grandes extensões de terras em áreas de preservação ambiental nesta mesma região?
O ICMBio é um dos órgãos do velho Estado que recebe recursos bilionários e treinamento de ONGs e Universidades americanas e europeias para cacarejar sobre meio ambiente e sustentabilidade, aplicando a política de expulsão dos camponeses da Amazônia e criação de grandes reservas para atender os interesses dos grandes monopólios brasileiros e estrangeiros na região.
Estado de sítio e torturas

Desde a manhã de sexta-feira, dia 15, dezenas de homens, 47 viaturas da Polícia Federal, COE, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal e 2 helicópteros do Exército e ICMBio, estão na região de Rio Pardo. Um verdadeiro aparato de guerra foi montado, com barreiras nas estradas e pontes para controlar as entradas e saídas de moradores. Os moradores de Rio Pardo seguem ameaçados de despejo e efetivos policiais continuam controlando a área.
A imprensa reproduzindo as orientações da polícia tem noticiado que esta operação é para periciar a viatura incendiada, mas há relatos de que esta operação seria para resgatar armamentos, incluindo um fuzil, perdidos durante a fuga dos policiais da Força Nacional. Moradores denunciaram que pelo menos 3 camponeses foram brutalmente torturados, com sessões de espancamentos, choques e tortura psicológica. Um escritório de dentista localizado em Rio Pardo foi destruído por policiais e o proprietário foi espancado após entregar algumas granadas e munições recolhidas após o confronto e que teriam sido abandonadas pelos policiais. Em nota a polícia disse que teria achado o material.
Um outro morador foi preso acusado de ser o autor do disparo que matou o policial, mas seu suposto nome (Iranildo) só foi divulgado posteriormente, típico de maquinações feitas pela polícia para atacar e criminalizar a luta do povo em geral e dos camponeses de Rondônia em particular.
Missão de solidariedade
Na noite de quarta-feira, dia 14, ocorreu um importante seminário no campus da Unir, em Porto Velho, sobre a escalada da repressão contra as lutas do povo, principalmente depois dos protestos que se iniciaram em junho e se espalharam por todo país. Participaram cerca de 80 estudantes, professores, advogados, índios e camponeses e representantes de diversas entidades populares e democráticas. Moradores de Rio Pardo chegaram ao final do seminário e denunciaram a violência cometida pelo ICMBio, Força Nacional e outras polícias. O Seminário definiu as visitas aos camponeses presos e ao distrito de Rio Pardo.
Na sexta-feira, dia 15, uma comissão de advogados, estudantes de direitos e representantes de entidades democráticas visitou os 10 moradores de Rio Pardo, presos no presídio Pandinha, em Porto Velho. Advogados populares já estão trabalhando na defesa destes camponeses.
A Missão vai exigir apuração dos casos de tortura por parte da OAB, Ministério Público e Secretaria de Direitos Humanos. No fim de outubro, o Ministério Público realizou audiência pública para cobrar explicações sobre abordagens violentas da PM e Força Nacional contra moradores de Campo Novo, Jacinópolis, Rio Pardo e outras áreas da região de Buritis. Ao final da audiência, foi anunciado que teria acabado a violência na região, mas isto não é possível enquanto existirem despejos de camponeses em luta pela terra e perseguições do ICMBio aos moradores que vivem e trabalham na terra.
Todos democratas devem se unir e organizar uma campanha nacional e internacional de denúncia sobre a repressão aos camponeses e responsabilizar os governos de Dilma e Confúcio por não apresentar solução para o problema agrário que enfrentam as quase 5 mil famílias que vivem e trabalham na área assim como dezenas de outros casos parecidos em todo Brasil. Só assim será possível desmascarar as mentiras e manipulações dos monopólios dos meios de comunicação, que justificam ações violentas de todo tipo contra os camponeses pobres e trabalhadores da Amazônia em geral. Tememos que nos próximos dias ocorram mais atos de violência contra a população de Rio Pardo. Precisamos de uma grande campanha para defendê-los.

Defender a posse das terras de Rio Pardo pelos camponeses!
Liberdade imediata dos camponeses presos e fim das perseguições!
Todo apoio aos trabalhadores de Rio Pardo e região!

ABRAPO – Associação Brasileira de Advogados do Povo
CEBRASPO – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos

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