domingo, 28 de marzo de 2010

INDIA: Aundhati Roy denuncia a repressáo contra o povo




Resumo do artigo traducido do ingles polo jornal Nova Democracia.

Delhi cria um novo inimigo para justificar o roubo de terra: os maoístas*

Arundhati Roy**

As montanhas do sul de Orissa têm sido a terra dos Dongria Kondh muito antes de que houvesse um país chamado Índia ou um estado chamado Orissa. As montanhas vigiavam os kondh. Os kondh adoravam as divindades que vivem nas montanhas. Agora estas colinas têm sido vendidas devido à valorosa bauxita que contém. Para os kondh, isso é como se Deus tivesse sido vendido.
Vedanta é somente uma das muitas empresas transnacionais que estão se instalando em Orissa. Se destruírem as montanhas, os bosques que estão sobre elas também serão destruídos. O mesmo sucederá com os rios e córregos que fluem por elas e que regam os campos abaixo. Também os fará com os Dongria Kondh, as centenas de milhares de pessoas das tribos que vivem no coração dos bosques da Índia.
Em 3 de dezembro de 2009 o governo lançou a operação "Caçada Verde", supostamente uma guerra contra os rebeldes maoístas nas selvas da Índia central. A guerra está programada para durar cinco anos e utilizará até 70 mil policiais e soldados paramilitares. Mas parece que os maoístas não são somente os rebeldes. Há um amplo espectro das lutas em todo o país como os camponeses sem terra, os dalit, os sem teto, trabalhadores e tecelões.
E quem são os maoístas? São membros do Partido Comunista da Índia (maoísta), também conhecido como PCI (maoísta), um dos vários descendentes do PCI (marxista-leninista) que liderou o levantamento naxalita de 1969.
Agora, na Índia central, o exército guerrilheiro maoísta se compõe quase totalmente dos povos tribais, pessoas que inclusive depois de 60 anos da chamada independência da Índia não têm acesso a educação, saúde ou acesso à justiça. São pessoas exploradas durante décadas sem piedade, constantemente enganadas, as mulheres violadas como questão de direito pela polícia e o pessoal do departamento florestal. Sua viagem de regresso a uma aparência de dignidade se deve em grande pate ao marco maoísta, cujos militantes têm vivido, trabalhado e lutado ao seu lado durante décadas.
Então, de que tipo de guerra estamos falando? Samarendra Das Felix Padel, em seu livro lançado recentemente, escreveu que o valor econômico da bauxita no estado de Orissa é de mais de 2 bilhões de dólares. Esta estimativa era de 2004 e hoje em dia estaria em cerca de 4 bilhões de dólares.
Estamos falando de engenharia social e do meio ambiente em uma escala inimaginável. E a maioria disso é secreto, não está em domínio público. Como vamos saber que partido político, quais ministros, parlamentares, políticos, juízes, ONGs, consultores e agentes de polícia têm interesse direto ou indireto nesse butim? Como saberemos que a apresentação de informes jornalísticos das "últimas atrocidades maoístas" que os canais de TV repetem supostamente desde o "marco zero" (como denominam o ponto de concentração maoísta) não mentem descaradamente?
As companhias mineradoras necessitam desesperadamente desta guerra. Eles ficarão ricos, muito ricos, se as operações contra-insurgentes desse governo indiano tiverem êxito em desalojar os povos tribais que até agora têm logrado resistir aos intentos de expulsá-los de suas terras ancestrais.



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*Trechos de artigo publicado em www.inthesetimes.com em janeiro de 2010.

**Destacada intelectual indiana, militante ativa dos direitos do povo, particularmente dos povos tribais.

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