Em 1844 aparecia no peirao de Deptfort (Inglaterra) o corpo duma moça de 18 anos, chamada Eliza Kendall, ela suicidara-se por não poder pagar as dívidas que tinha cós intermediários duma empresa de têxtil. O trabalho “livre” de Eliza e de tantas trabalhadoras do têxtil da época estava composto por uma rede de subcontratas para abaratar custes, que levava a moitas das trabalhadoras a pedir créditos para subsistir.
Como relata o antropólogo Ignasi Terradas na antibiografía de Eliza Kendal, as irmãs Kendall cosiam camisas para uns intermediários duma empresa têxtil que adquiria os tecidos num armazém londinense, e logo distribuía para a sua confecção a um talher onde trabalhavam mais de 200 trabalhadoras. A mesma empresa que vendia as matérias primas, era proprietária do talher, assim como mercava aos intermediários a roupa confeccionada por trabalhadoras “livres” a baixo custe.
Ainda que esta historia é de 1844 e muitos renegam de conceitos como a exploração ou a luta de classes, na Galiza sucedeu algo muito parecido e não faz muito tempo. O livro Amancio Ortega: de Cero a Zara de Xabier R. Blanco e Jesús Salgado, aporta muita informação que nos aproxima cós exploradores da época de Eliza Kendall.

Em 1983 Rogelio Garcia, diretor de Fios (Inditex), sugeriu-lhe montar um talher têxtil ao cura de Santa Gema da Corunha, Jorge Lopez Neira. Assim é como nasceu unha rede de cooperativas semiclandestinas, que ainda hoje, são as que permitem dar resposta imediata ao mercado.

Todas essas cooperativas contaram co apoio da Xunta de Galiza, mesmo chegando a ser sócio durante um ano da primeira cooperativa, um sistema ilegal, ja que nas cooperativas não se pode ter um sócio capitalista. Na primeira cooperativa, a Xunta aportou 1,4 milhões de pesetas dum total de 4 milhões que se empregou para pagar as maquinas. “Chegávamos a financiarmos por riba do legalmente permitido” declarou o cura á revista Articulo 20.
Cada mulher adiantava 700.000 pesetas, e conseguiam outras 400.000 a través de ajudas a filhas de labregos menores de 35 anos e créditos subvencionados. Os vendedores de maquinas engordavam as facturas “punham 20 milhões em vez de 15 que custavam as maquinas, e os bancos nos davam o crédito sem aval. Como os dinheiros das mulheres ja o tinham, o crédito era um comodín de papel, mas a subvenção da Xunta por financiamento de interesses era de verdade”. O engano proporcionava 1,4 milhões por cooperativista, o dobre da inversão. As trabalhadoras nestas cooperativas tinham jornadas de trabalho de 11 e 12 horas diárias, em condições de semiescravitude baixo o manto do trabalho “livre”.
Destas primeiras cooperativas nasceram mais e mais. Em 1992 houve 30.000 cooperativistas, em 2004, 10.000 distribuídas em 400 talheres que trabalhavam para Inditex. Inditex medrou graças ao suor e sangue das mulheres trabalhadoras galegas.

Para os sociólogos galegos Carlos Rabuñal e Marta Casal: “ para Inditex os talheres são unicamente um instrumento de alta produtividade a baixo custe” o que os leva a forçá-las a “trabalhar numas condições péssimas”.
A doutora em Psicologia do trabalho e das organizações Mar Iglesias, na “Panoramica sociologica del sector textil galego” explica que ao não existir relação laboral, Inditex não compra maquinaria, nem paga seguros sociais nem da formação as trabalhadoras. Limitasse a empregar ao pessoal coma se fora próprio, com um trato degradante em condições péssimas, baseados na auto-exploração.
Num estudo de 2003 para CC.OO realizado pelo economista e agora deputado do Parlamento Galego, Manuel Lago, dizia que um de cada quatro trabalhos da indústria têxtil eram clandestinos. Segundo o Ministério de Fazenda, entre 1983 e 2003 foram defraudados 6.500 milhões de euros pela economia submergida (21% do PIB galego).
Mas não podemos esquecer, que precisamente a direção da Federação de têxtil de CC.OO foram cúmplices das condições de miséria e exploração que sofreram estas trabalhadoras, sem fazer nada em contra de tal exploração em base a que “pelo menos tinham um trabalho”. Quando se perde o caráter de classe e a sua luta contra da exploração entre seres humanos este é o seu discurso.
Graças aos talheres e as cooperativas com um trabalho de semiescravitude e semiclandestino, a fraude fiscal e á cumplicidade de instituições públicas dando subvenciones, Inditex reforçou-se como empresa e com essa rentabilidade e produtividade disparou a sua faturarão. Se a isto adicionamos-lhe a exploração em condições péssimas nos armazéns de distribuição e nas tendas -“um submundo de condições laborais de verdadeira exploração, tão atrozes que raiam á escravitude”, como diria o sindicalista de CIG em Zara Logística Roberto P. Vila para o Diário Público no ano 2018-, sem esquecer a exploração em condições de semiescravitude que sofrem milheiros de trabalhadoras em fábricas pelo mundo adiante, pois aqui temos o milagre de Amancio Ortega e Inditex. Este milagre tem um nome: Exploração, e como tal, os seus criadores são uns exploradores.
Quantas Eliza´s Kendall galegas quedaram pelo caminho no processo de acumulação de capital do explorador Amancio Ortega? O único final feliz para esta historia de exploração, passa pela expropriação de toda a riqueza roubada aos milheiros de trabalhadoras e trabalhadores por estes exploradores.