Por Rafael Gomes Penelas
“A realização da Copa é praticamente inevitável. Porém, o grito ‘Não vai ter Copa’, cantado em passeatas desde junho do ano passado, é exitoso. Ele desmascarou para grande parte da população todos os absurdos que estão sendo cometidos: as remoções, a violência da polícia contra os protestos e tudo mais. Junho está chegando e não estamos vendo o clima de festa que os governantes esperavam. Estamos vendo, sim, os protestos voltando, pichações de protestos nos muros e muita gente indignada.”
Estas palavras do estudante de História, Raphael Oliveira, concedida ao AND durante o Festival Não vai Ter Copa, realizado pela Frente Independente Popular (FIP-RJ) no último dia 16 de maio, mostra bem o clima em que a Copa da Fifa será realizada no Brasil.
O próprio Festival, que ocorreu em plena Cinelândia, no Centro do Rio, e contou com a participação de centenas de pessoas e diversas atrações artísticas, musicais, poesias, fotografias, desenhos, etc, foi uma prova de que a juventude está se mobilizando para levar suas bandeiras e reivindicações para as ruas durante o megaevento.
Indo além, os combativos protestos da população não param. No último dia 15 de maio, milhares de pessoas foram às ruas em várias cidades mostrar sua insatisfação. Em São Paulo, como em vezes anteriores, a PM reprimiu com violência a manifestação. No Rio, a Avenida Presidente Vargas voltou a ficar pequena no protesto que reuniu jovens, trabalhadores, rodoviários, professores em greve, etc. A gerente federal Dilma Roussef/PT, desesperada para salvar a imagem da Copa da Fifa, deu declaração dizendo que os protestos do 15M “fracassaram”.
Neste mesmo dia em São Paulo, os sem-teto, organizados pelo MTST, realizaram manifestações em diversos pontos da capital. O acampamento ‘Copa do Povo’, localizado próximo ao estádio Itaquerão, prossegue firme na luta e seus moradores prometem agir durante a Copa. À noite, em um protesto espontâneo da massa, a PM foi recebida por uma chuva de fogos por manifestantes em Guarulhos.
O Rio de Janeiro vive dias de efervescência política: greve de professores, de rodoviários e outras categorias. Rebeliões populares em favelas e bairros pobres: Favela do Metrô, resistência dos moradores da Oi-Telerj, Cantagalo, Alemão, Maré, Morro dos Macacos e Horto são alguns exemplos recentes de que a população pobre da cidade não aceita (e nem aceitará) como antes os desmandos dos gerenciamentos de turno e a violência policial desenfreada.
Em outras regiões do Brasil, os protestam se sucedem. Ônibus queimados em Goiânia, repressão contra secundaristas em Fortaleza e por aí vai…
- Remoção e violência contra os pobres: esse é o legado da Copa. Dinheiro para os megaeventos eles têm. Já para a saúde, educação, melhorias no transporte… continuam no caos. E já anunciaram novo aumento no trem – disse uma manifestante também estava presente na manifestação do 15M na capital fluminense. Com o rosto coberto, ela segurava um cartaz escrito ‘Fifa go home!’. A matéria sobre estes protestos está na nova edição de AND, nº 131, recém lançada. A capa desta edição do jornal traz a manchete: ‘Greves e protestos em todo o país dão o recado: Não vai ter Copa!’
O que realmente está fracassado?
Em cidades que possuem histórico de comemorações e festas de rua tradicionais, como o próprio Rio, poucas vias públicas estão decoradas. E, grande parte das que estão, são “decorações” de protesto exigindo direitos básicos e melhorias das condições de vida.
Todo esse clima de insatisfação mostra bem claro que, de fato, o que estão fracassados são a Copa da Fifa e tentativas dos “governos” para salvá-la e apresentá-la como algo positivo para o povo brasileiro. Tudo isto, claro, com o apoio de uma ridícula campanha ufanista que chega ao ponto de dizer que quem é contra a Copa está “torcendo contra o Brasil”. Como já tivemos a oportunidade de dizer, esta campanha em nada deve os slogans do regime militar, tal como “Brasil, ame-o ou deixe-o”.
Logo eles, especializados nos mais diversos crimes contra o povo brasileiro, tais como as remoções, já citadas aqui, a militarização de bairros pobres, privatizações, benefícios para os grandes burgueses, para a mafiosa Fifa, a orgia com o dinheiro público etc.
Até o início do ano, os governistas alegavam que os ‘grupos do Não vai ter Copa’ eram “insignificantes”, de “direita”, “financiados”. Sempre fazendo coro com o monopólio reacionário da imprensa. Agora, faltando um mês, as pérolas proferidas por eles em sua vã tentativa de criminalizar e desqualificar os justos protestos beiram o grotesco.
Os governistas e as máscaras no armário
Senão vejamos o que postou no Twitter um notório “intelectual” governista chamado Emir Sader: “Agora esses vira-latas já sabem: vai ser assim também dia 12. Os Gaviões vão enxotá-los de novo” e “De novo a Gaviões da Fiel protegeu o Itaquerão e enxotou os vira-latas”.
Os “vira-latas” aos quais o “intelectual” vira-lata se referiu eram os trabalhadores sem-teto que exerciam seu direito de manifestação próximos ao estádio. E o que dizer da exaltação à Gaviões da Fiel, paga para fazer a “segurança” das arenas da Copa? Bem, deixadas as máscaras no armário, os governistas mostram, sem o menor pudor, de que lado estão. E não é ao lado do povo.
A própria Dilma e seu interlocutor com os movimentos populares, Gilberto Carvalho, são obrigados, a cada evento que vão, a dar explicações. As vaias são constantes, a desmoralização de tais “autoridades” também. Os sorrisos sem graça não deixam mentir.
Também, o que usariam como justificativa aqueles que estão mobilizando um gigantesco aparato repressivo para garantir a “paz” e a “segurança” durante o evento? Que paz? Quem são os inimigos que ameaçam a paz, os manifestantes?
Outras “notórias e famosas personalidades” dão seus atestados de palhaços: “Não se faz Copa com hospital”.
Nas redes sociais: Não vai ter Copa!
Além das ruas, também nas redes sociais diversas iniciativas chamam a atenção pela criatividade, ajudando a divulgar as manifestações populares.
Uma iniciativa interessante é a do Movimento de Decoração Anti-Copa –(https://www.facebook.com/DecoracaoAntiCopa?ref=ts&fref=ts) que divulga graffitis, pinturas murais e outras intervenções artísticas nas ruas.
Na área do humor, o Coletivo Vinhetando criou o evento ‘Vai ter Cópula’ (https://www.facebook.com/events/554470194673869/) e foi criada a fan page “Álbum de Figurinhas #NaoVaiTerCopa” (https://www.facebook.com/pages/%C3%81lbum-de-Figurinhas-NaoVaiTerCopa/1390114561213515?fref=ts).
Diversas páginas de movimentos populares, de veículos de comunicação independentes e outras também estão divulgando os preparativos para a “recepção” da Copa da Fifa.
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