Manifestações contra o governo levantaram divergências sobre qual é, afinal, o papel das ruas para a luta popular-revolucionária. Foto: Banco de dados AND
Como tem afirmado o Editorial de AND em diversas ocasiões, as ruas possuem importante papel na crise política, porém, não são onde se decide o destino dos povos. Voltamos uma vez mais a isso, pois, com as recentes manifestações nacionais contra o governo militar genocida de Bolsonaro, ganhou contorno uma rinha política que aparentemente opõe duas teses (e, por detrás delas, diferentes práticas oportunistas) de acordo com as quais o destino do país e a dita “luta contra o fascismo” ou se decidem nas urnas, ou se decidem nas ruas. Enquanto entre os últimos, especialmente em sua base, pela condição de nova geração de jovens combativos, há ainda natural imaturidade política sobre como conduzir uma verdadeira transformação da sociedade, ou seja, não reconhece ainda que esta passa inevitavelmente pela Revolução Agrária como parte essencial e base imprescindível da Revolução de Nova Democracia ininterrupta ao Socialismo. Mas, ao menos, ainda abrigam um bom contingente disposto à luta e desiludido com a farsa eleitoral. É a este contingente que nos dirigimos. Já os primeiros, são os representantes do mais podre eleitoralismo e da traição de classe. Os mais gatunos, charlatões como Boulos et caterva e os liberais, ainda tentam conjugar as duas teses: afirmam ser as ruas definidoras das urnas e estas, por sua vez, definirão o destino do país. Não obstante, quando esperneiam e bradam logo que se deparam com a palavra de ordem Não vote, Lute!, sob alegações de que não há contradição entre votar e lutar, é precisamente isto que buscam omitir: que na sua dialética decadente, o aspecto da luta é secundário, e o votar, o principal.
Não se faz demasiado aqui repisar que, em última instância e de forma geral, as farsantes eleições burguesas decidem, no máximo, quem será o próximo verdugo das massas exploradas e oprimidas. Isso é o bê-a-bá. Porém, particularmente na situação que vivemos, de golpe militar em curso, dentro de uma ofensiva contrarrevolucionária desatada no país desde 2015, quem vaticine ainda a saída eleitoral para a enfermidade crônica da nação, admite o golpe militar em curso uma vez que este pleito terá o papel principal de definir quem será a fachada (e legitimação constitucional) de tal golpe, que se aprofundará – o exato oposto do que sonham. Nem com um pelego inveterado, nem com um engravatado qualquer se poderá frear uma “ameaça de ruptura”. Ruptura esta, diga-se, inevitável, na marcha irresistível do acirramento da crise política em nosso país, que aponta para a guerra civil. De tal sorte, que é cada vez mais um crime convocar as massas a participarem dessa pantomima.
No curto prazo, porém, o que as ruas e suas manifestações podem fazer – e sempre fazem, talvez por isso as temam tanto! – é desmascarar, perante os novos contingentes de massas que despertam para ação, a natureza daqueles que traficam com as bandeiras de luta. Observemos este fenômeno: a cada jornada, novas levas de massas acendem para luta e ali se deparam, num primeiro momento, com as aparências. Neste estágio, os oportunistas costumam expandir suas fileiras e seu prestígio, surfando na propaganda legal e virtual e se aproveitando de um certo romantismo ingênuo, especialmente dos mais jovens. Logo quando a luta se aprofunda e se passa do primeiro deslumbramento, se evidencia na prática toda a essência oportunista de certos grupelhos, coisa que nem com uma centena de artigos em tempos de "calmaria" aparente, se conseguiria realizar. Passam então (os oportunistas) a botarem freios na revolta popular, a medir o ódio de classe das massas com sua régua ética e moral pequeno-burguesas e atuam como bombeiros da luta de classes. Como diz o ditado, “por fora, bela viola – por dentro, pão bolorento”.
Nessa toada é que vimos “lideranças” nos últimos atos entregando jovens ativistas para a polícia, movimentos ditos de luta no campo prometendo prender, bater e expulsar a juventude combatente dos atos para darem boas-vindas aos fascistas mirins do MBL, revisionistas obcecados com protagonismo agredindo indígenas e ainda outros a escreverem linhas e mais linhas recriminando a ação combativa das massas, tudo para não atrapalharem seus conchavos eleitorais. Levando muitas pessoas honestas à desilusão, o que fazem, na prática, é levantar a bandeira vermelha da luta para depois jogá-la ao chão, pisoteá-la e enlameá-la. Alguns ainda com a ousadia de, em sua prática covarde, trazerem na bandeira o símbolo da foice e o martelo, símbolo do proletariado revolucionário, que representa o sangue de milhões de massas que o deram na luta pela revolução. Cenas que reprisam, para ficar num fato mais recente, junho de 2013. Quem não se lembra do comportamento histérico da “esquerda” oportunista em coro com o monopólio de imprensa com relação aos “vândalos”, “black blocs”, “infiltrados” etc? Uma certa imprensa dita “progressista”, porta-voz do oportunismo em verdade, foi a campeã das fake news contra as manifestações àquela época, deixando a extrema-direita no chinelo neste quesito. Aliás, quem cai nessa de infiltrados radicais, assume tacitamente a ideia de que o povo não tem pelo que se revoltar.
O poder político não nasce das urnas – isto bem o sabe a milicada golpista – e a conquista deste passa, sim, pelas manifestações nas ruas, mas não se restringe a elas. Em vez de apêndice eleitoral, a tarefa dos revolucionários é convertê-las em caixas de ressonância da luta revolucionária; primeiro pelas necessidades imediatas mais sentidas, quais sejam terra, moradia, vacina, renda, emprego etc, e logo reivindicações mais políticas, como a denúncia do genocídio (já esquecida pelos humanistas de ocasião da oposição burguesa a Bolsonaro, condensada na CPI da covid), do governo militar genocida, pela liberdade de todos os presos políticos e, principalmente, propagandear e defender a luta pela terra, o movimento camponês revolucionário do qual a Liga dos Camponeses Pobres (LCP) é exemplo, enfim, a Revolução Agrária em curso. E é na batalha real, dura, cruenta e prolongada, que os revolucionários guiados pela sua vanguarda, também os democratas e verdadeiros patriotas, resistirão a sucumbir à escravidão fascista e construirão a nova democracia, a independência, a soberania e a liberdade das massas oprimidas.
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