Carta de repúdio ao Estado de Sítio vivido no Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, 14 de julho de 2014
O
último final de semana no Rio de Janeiro vivenciou o estabelecimento de
um verdadeiro Estado de Sítio implementado para garantia do megaevento
Copa do Mundo. A ação repressiva e violenta, entretanto, já se fazia
perceptível desde o ano passado com uma brutal criminalização dos
movimentos reivindicatórios que ocuparam os espaços públicos como forma
de defender mais saúde, educação e mobilidade, entre outros direitos
sociais resguardados na Constituição desde 1988.
O que se assistiu nesse final de semana foi um espetáculo lamentável de ruptura com qualquer noção de democracia.
No
sábado, dia 12 de julho, o juiz da 27ª vara criminal do Poder
Judiciário do Rio de Janeiro autorizou o cumprimento de ilegais 26
mandados de prisão temporária, sob argumento central de que “verifica-se,
também, que há sérios indícios de que está sendo planejada a realização
de atos de extrema violência para os próximos dias, a fim de aproveitar
a visibilidade decorrente da cobertura da Copa do Mundo de futebol,
sendo necessária a atuação policial para impedir a consumação desse
objetivo e também para identificar os demais integrantes da associação”.
Trata-se
de verdadeira prisão política que demonstra a relação subserviente do
Poder Judiciário aos interesses econômicos, sejam eles de organismos
internacionais ou de poderes públicos estatais. Os Executivos Estadual e
Federal vergonhosamente silenciaram diante dos abusos cometidos por
suas forças de segurança em atuação no Rio de Janeiro.
É
vergonhosa a atuação do Judiciário do Rio de Janeiro que vem se
envergando ao Executivo Estadual, demonstrando a falácia da
independência entre os poderes e a mediocridade interpretativa dos seus
integrantes em defesa de um rebaixado processo de controle social.
Como
se não bastasse a ordem prisional decretada no apagar das luzes,
prática comum no período inquisitorial e que se perpetuou nos regimes de
exceção, vide ditadura civil-militar no Brasil, neste domingo tivemos
um verdadeiro estado de sítio estabelecido na praça Saens Pena, Tijuca. O
espaço público foi escolhido por uma série de movimentos sociais e
partidos políticos para a realização de atos em defesa de mais
democracia e politicas públicas, e menos remoções, repressão e
criminalização.
O
que se seguiu foi um verdadeiro campo de guerra onde as forças de
segurança com bombas cercaram os manifestantes, obrigando-os a ficarem
presos na praça e impedidos de sair. Ninguém entrava após o
estabelecimento do cerco que durou até o final do jogo. Advogados que
foram acionados para apoio diante do alto grau de arbitrariedades foram
barrados e somente após um longo período é que conseguiram adentrar ao
cerco.
Dentro
do cerco, os policiais militares (identificados pela sigla
alfa-numérica) espancaram manifestantes e quem mais estivesse ali, como
um midiativista que teve seu antebraço quebrado pelos golpes de
cassetete, dentre várias vítimas. Uma jornalista com a cabeça sangrando e
uma estudante com o braço ferido foram impedidas de sair do cerco. Não
havia razão para essa brutal repressão, apenas justificada pela certeza
de que as autoridades superiores (sejam elas estaduais ou federais)
concederam tacitamente carta-branca para o massacre dos militantes.
O
legado da Fifa para o Brasil será a sedimentação de um estado de
exceção, legitimado pelo sistema judicial, onde cidadãos podem acordar
com policiais na sua porta para a decretação de suas prisões como
garantia da paz e da ordem do Estado. A paz e a ordem são criadas
através da supressão dos direitos de livre manifestação e participação
política, e pela prisão dos que defendem a democracia. Mas como nos
lembra Marcelo Yuka, “Paz sem voz não é paz é medo!”.
Queremos
aqui reiterar que nos recusamos a silenciar. Nossa história e nossas
conquistas foram forjadas na luta, e na luta seguiremos.
Lutar, Construir Reforma Agrária Popular
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
Centro de Assessoria Jurídica Popular Mariana Criola
Centro de Assessoria Jurídica Popular Mariana Criola
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