Responder à paz que nos impôs a guerra com a guerra que nos devolva a paz
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Quem ache brutal a crítica ao acordo e, naturalmente, a quem o assinou, deve olhar para a brutalidade do que lá está escrito. O paralelo pode ser feito com todos os grandes temas em cima da mesa. A brutalidade de sair da UE não pode ser mais dura do que a brutalidade de continuar nela; a brutalidade de ficar com o dinheiro da banca privada para fazer face ao bloqueio e às feridas da austeridade não pode ser mais exigente do que pagar uma dívida ilegítima a quem ficou com o saque que nos conduziu até aqui; a brutalidade de nacionalizar a banca não é superior à de manter o reich financeiro com a mão no tesouro; a brutalidade de recuperar uma moeda nacional não pode ser tão perigosa como a continuidade de uma moeda única que só serve os interesses da França e da Alemanha às custas da indignidade da esmagadora maioria das pessoas; a brutalidade de um regresso, ainda que temporário, ao tempo das fronteiras, não pode ser mais cruel que a chantagem, a coação, a humilhação que está a ser aceite por quem a devia combater; a brutalidade de um povo em sobressalto e de um estado de sítio não pode ser pior do que um povo desmoralizado pela rendição e um estado de subserviência. Dizem que foi golpe de estado? Respondam à agressão, como manda a história, à altura dos acontecimentos.
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Nestas esquinas da história não se combate a violência sem recorrer à violência, a brutalidade sem ser brutal. No final, como diria Debord, a vitória pertencerá aos que provocarem a desordem sem a amar… e sabemos como a amam os de cima. A escolha é entre o caos de um regime imposto por uma minoria ou o caos, potencialmente emancipatório, desenhado pela massa. Que a pólvora derrote nas ruas os acordos feitos nos corredores dos parlamentos dos bantustões e em Bruxelas. Já não há nada a perder. Venha daí o fogo. A guerra que é precisa não pode queimar mais do que a paz dos agiotas.
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