O paramilitar Adriano Nóbrega preso em 2011 por ligação com jogos de azar. Foto : Banco de Dados AND
O paramilitar e ex-capitão do Batalhão de Operações
Especiais (Bope) do estado do Rio de Janeiro, Adriano Magalhães da
Nóbrega, foi assassinado no dia 9 de janeiro, no local em que estava
escondido, no município de Esplanada, no sul da Bahia. O esconderijo,
localizado em uma fazenda que fica a 170 km de Salvador, era pertencente
a um político do Partido Social Liberal (PSL). A operação que matou
Adriano foi coordenada pela Secretaria de Polícia Civil do Rio de
Janeiro (Sepol) e pela secretaria de Segurança Pública da Bahia.
Segundo informações oficiais, a operação começou por
volta das 22h do dia 8 de fevereiro e terminou às 8h do dia 9 com a
morte do paramilitar. Segundo a polícia Adriano teria resistido e
trocado tiro com os militares. Na fazenda, que pertence ao vereador
Gilsinho da Dedé/PSL, foram encontradas quatro armas, sendo um revólver,
uma pistola de uso restrito e duas espingardas. Ainda segundo a
polícia, Adriano teria sido socorrido, mas não resistiu aos ferimentos.
No dia 2 de fevereiro, a polícia já tinha tentado
capturar Adriano. Eles foram até a casa onde a família Nóbrega está
hospedada, na Costa do Sauípe, porém o ex-PM conseguiu fugir do local,
antes da chegada dos policiais.
Adriano estava foragido desde janeiro de 2019, pois é
investigado pelo envolvimento nos assassinatos da ex-vereadora Marielle
Franco e do motorista Anderson Gomes, além de ser apontado como chefe
do grupo de paramilitares de extrema-direita “Escritório do Crime”, que
presta serviços como assassinato mediante pagamento e explora atividades
ilícitas em favelas do Rio de Janeiro. Ele ainda tinha participação em
atividades como agiotagem, lavagem de dinheiro, grilagem de terras e
construções ilegais. Adriano se declarava oficialmente como
“pecuarista”.
Adriano ainda tem uma estreita ligação com a família
Bolsonaro. Em 2003, quando ainda era capitão do Bope, recebeu uma
condecoração por “serviços prestados à sociedade”. Em uma solenidade
realizada na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj),
o deputado estadual responsável pela indicação e condecoração do
militar era o hoje senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro.
Em 2007, o então deputado fez um discurso, que está
registrado na Alerj, defendendo a atuação das “milícias”. Flávio diz que
"a milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou
não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem
dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos”.
Nada disse sobre o seu real caráter: extorsão, negação do direito das
massas à livre manifestação e organização, roubo, execuções e toda sorte
de opressão.
O próprio Jair Bolsonaro homenageou o ex-capitão do
Bope, em 2005, após Adriano ser condenado por homicídio. O hoje
presidente fascista disse que o paramilitar era um “brilhante oficial”.
Adriano já trabalhou também como segurança de bicheiros cariocas, sendo
preso por tentativa de assassinato em 2011.
A ligação mais recente de Adriano com Flávio
Bolsonaro veio à público em 2018, com o escândalo das chamadas
“rachadinhas” (esquema no qual o político faz nomeação de funcionários
fantasmas que recebem um alto “salário” – dinheiro pertencente ao
Legislativo – e que são obrigados a devolver uma parte dele para que o
político se aproprie). Segundo investigações do Ministério Público,
Adriano era amigo do ex-policial militar Fabrício Queiroz,
ex-funcionário do gabinete de Flávio Bolsonaro. A ex-mulher e a mãe de
Adriano, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega e Raimunda Veras
Magalhães (respectivamente) trabalharam no gabinete de Flávio.
O ex-militar teria inclusive recebido repasses de
duas pizzarias controladas por Adriano. Dois repasses vieram das
empresas controladas por Adriano, de acordo com os investigadores.
O paramilitar sabia demais
Logo após a confirmação da morte do paramilitar, seu
advogado (Paulo Emílio Catta Preta) disse que seu cliente telefonou para
ele no dia 4 de fevereiro, e disse: “doutor, ninguém está aqui para me
prender. Eles querem me matar. Se me prenderem, vão matar na prisão.
Tenho certeza que vão me matar por queima de arquivo”.
O advogado ainda relatou que em conversa com a esposa de Adriano ficou sabendo que o ex-militar não estava armado.
O autodenominado Partido Socialismo e Liberdade
(Psol), do qual fazia parte a ex-vereadora assassinada, Marielle Franco,
informou em nota que irá solicitar uma audiência com a Secretária de
Segurança Pública da Bahia para obter mais informações sobre a operação.
Na nota o partido ainda afirma que “uma vez que Adriano da Nóbrega era
peça chave para revelar os mandantes do assassinato de Marielle e
Anderson, bem como de diversos outros crimes, incluindo aqueles
envolvendo Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz. Avaliaremos medidas que
envolvam autoridades nacionais. Seguiremos respostas e transparências
para pôr fim à impunidade”, encerra.
O ex-capitão do Bope vivia em fazendas na Bahia. Foto: Banco de Dados AND
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