Manifestação ocorrida no Rio de Janeiro no dia 19 de junho. Foto: Banco de Dados AND
As últimas semanas marcam uma inflexão no processo político – já prevista e analisada em editoriais anteriores – com Bolsonaro acuado pela avalanche de denúncias contra o seu governo e a ameaça do impeachment a pairar permanentemente sobre sua cabeça. A oposição burguesa-latifundiária da direita tradicional instalada na CPI, liderada por figuras “ilibadas” como Renan Calheiros, recrudesce sua investida para remover a extrema-direita, a fim de salvaguardar a mesma ordem reacionária que ambas defendem. Chega a ser espantoso ver figuras centrais no processo de ataques e supressão dos direitos sociais e democráticos nas últimas décadas, posando agora de defensoras da ciência e da saúde. Note-se, aliás, que os “esquemas” da família Bolsonaro iam das “rachadinhas” com verba de gabinete até a associação com as ditas milícias para aparelhar os hospitais federais do Rio. Já o potente “centrão” – sempre governista, qualquer que seja o governo – abocanhou 6 bilhões de reais em emendas e tramou, ao que tudo indica, um mega-esquema de desvios na negociação de vacinas, capitaneado pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros. Filiado ao PP (sempre ele), Barros já foi líder do governo FHC, vice-líder de Lula e de Dilma e Ministro da Saúde de Michel Temer. Dos dois lados do balcão – seja no governo, seja na oposição – encontram-se arrivistas profissionais com trajetória idêntica.
Este é o retrato do Congresso Nacional, inimigo acérrimo do povo brasileiro, presidido por notórios bandidos e pela majoritária bancada ruralista. E é para lá que apontam os oportunistas, que pretendem fazer das manifestações de rua mero apêndice daquela instituição apodrecida. Na verdade, o próprio fato de os monopólios de imprensa, ao lado de “Suas Excelências”, destacarem o tema “corrupção” como mal principal num contexto em que 520 mil brasileiros são mortos na pandemia da Covid-19 pela sabotagem do governo tanto às medidas sanitárias quanto à aquisição das vacinas necessárias, e outros 14 milhões estão oficialmente desempregados (dado subestimado, uma vez que não abrange os informais e os desalentados), indica que sua preocupação não é com os interesses das massas, mas com seus próprios projetos de poder e eleitorais. Ao povo, como sempre, está reservado o papel de coadjuvante, até que sobrevenha outra eleição e novas frustrações. Situação, aliás, compatível com nosso passado latifundiário e feudal-escravocrata, em que o direito ao patrimônio dos “senhores” sempre precedeu e se sobrepôs ao direito à vida das massas de despossuídos.
Para o deleite da Globo – esta monstruosa máquina de alienação política e massificação cultural reacionária do povo brasileiro –, que até então vinha boicotando as manifestações combativas, desinformando e mentindo sobre as ações das verdadeiras forças populares-democráticas, pôde desta feita fazer badalação de uma manifestação mais parecida a corso carnavalesco pelo impeachment de Bolsonaro, tudo para alcançar, em coro com o que prometeu Boulos – este candidato a sucessor do pelego-mor: posse de Mourão na presidência.
Seria um grave erro permitir que as legítimas manifestações de massas sejam sequestradas por oportunistas que, até ontem, desde a internet, acusavam de disseminadores do vírus quem não parou de lutar, que em nome de uma “frente ampla antifascista” praticam, de fato, a mais desavergonhada conciliação de classes. Nada têm em comum as massas com os Dória, os Kim Kataguri, as Joice Hasselman, nem com os mercadores de ilusões que chamam àqueles – e também a Renan Calheiros, Jader Barbalho, José Sarney, bem mais perigosos, aliás – de “companheiros”. Na verdade, marchar ao lado de figuras e instituições desprezadas pelas massas, o que se comprova pelos sucessivos recordes de abstenções e votos brancos e nulos a cada eleição, é que é fazer o jogo do golpismo, deixando nas suas mãos o monopólio da crítica à velha ordem política. Isto, sem falar do grave equívoco que consiste em supor que um processo golpista em marcha pode ser detido pela mera “pressão popular”. No frigir dos ovos, é a força efetiva, e não a pressão, que decide a sorte das classes e dos povos.
Sim, os lutadores devem convocar as massas à luta, mas não para defender o indefensável, isto é, esta velha e anacrônica democracia burguesa-latifundiária, serviçal do imperialismo, que não passa de um arremedo sem conteúdo efetivo. Por ela, não deve-se mover nenhuma palha, nem gastar nenhuma vela. Basta de ilusões! Por Pão, Terra e Nova Democracia é que as massas lutam e lutarão.
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