Nicarágua sacudida por rebeliões populares contra govern.
Aproveitando-se da agitação, USA atua nos bastidores para desestabilizar o país
A Nicarágua chega ao quarto mês de violentos protestos e brutal repressão com um saldo de cerca de 350 mortos, centenas de manifestantes presos, mais de 1.830 feridos, além de sequestros, espancamentos, etc. Em meio à justa rebelião popular contra o governo antipovo e vendepátria de Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), digladiam-se o oportunismo eleitoreiro à cabeça do velho Estado, que massacra os protestos; e o imperialismo ianque, que se bate por dirigir a insatisfação popular, dando seguimento a sinistros planos de aumentar o controle sobre a América Latina. As massas populares nicaraguenses, carentes de direção revolucionária, seguem lutando pela derrubada de Ortega.
Oswaldo Rivas
Os protestos, iniciados contra a 'reforma' da previdência e outras medidas reacionárias, agora pedem a renúncia de Ortega
Os protestos se iniciaram em abril após decreto do governo
“reformando” o sistema previdenciário da Nicarágua. A repressão aos
protestos foi brutal e, mesmo conseguindo derrotar a contrarreforma, o
povo seguiu aumentando os protestos, exigindo a renúncia de Daniel
Ortega.Nos bairros da capital Manágua e de outras importantes cidades, o povo se entrincheirou em bloqueios nas ruas para se defender com paus, pedras e rojões, quando passou a ser atacado diretamente pelas forças de repressão ou por grupos paramilitares governistas que, encapuzados, alvejam manifestantes e removem os “tranques”, como são conhecidos os bloqueios de ruas por todo tipo de material.
Estudantes pararam as aulas e tomaram importantes universidades, que foram também invadidas pelas forças policiais e paramilitares. Os confrontos resultaram em estudantes mortos e feridos, o que levou ainda mais pessoas a protestarem nas ruas. Universitários foram sequestrados e mantidos reféns em casas-sede da Juventude Sandinista.
Ainda em junho, o governo tratou de recuar e formou uma mesa de negociação com setores estudantis e camponeses (chapa branca), empresários e a Igreja católica, mas já nas ruas só se ouvia uma exigência: a queda de Ortega, algo que entrava as “negociações”.
Sem a mínima intenção de ouvir as ruas, e ao mesmo tempo que ampliava a repressão aos protestos, o governo de Ortega bravateia contra planos de intervenção ianque no país, algo inteiramente provável, mas tal denúncia não passa de palavras ocas quando saem da boca de quem usa o antiimperialismo para massacrar o próprio povo.
No dia 12 de julho forças policiais e paramilitares assediaram instalações da Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua (Unan), em Manágua, local em que se alojavam estudantes em protesto. Os universitários se refugiaram na Igreja da Divina Misericórdia, onde também foram atacados, resultando em dois estudantes mortos. No dia seguinte, Medardo Mairena e Pedro Mena, membros do Movimento Camponês da Nicarágua foram detidos pela polícia no aeroporto de Manágua, acusados de matar policiais em um confronto dias antes. Os dois dirigentes foram apresentados em audiência a portas fechadas no dia 17 de julho, sem a presença de advogados, e acusados de sete crimes, entre eles “terrorismo”. Tal acusação se tornou possível graças a uma lei antiterrorismo aprovada pelo parlamento um dia antes. A exemplo da lei semelhante aprovada no Brasil, de autoria de Dilma Rousseff/PT, a definição de terrorismo é bastante ampla para atingir todos os movimentos populares que não sejam corporativizados pelo governo.
Javier Bauluz
Mulheres e crianças construíram barricadas com os mesmos paralelepípedos usados nas trincheiras contra o exército de Somoza na década de 1980
Em 17 de julho, anunciaram uma “ofensiva final” contra o que seria o
reduto dos protestos, o bairro de Monimbó, na cidade de Masaya. Três
pessoas foram mortas.Mulheres e crianças construíram barricadas com os mesmos paralelepípedos usados nas trincheiras contra o exército de Somoza na década de 1980
A derrota do ditador ocorreu na mesma cidade de Massaja, em 19179, onde se concentraram as forças sandinistas para realizarem o assalto final a Somoza em Managuá. Curiosamente esta mesma cidade se converteu em concentração das forças contrárias a Ortega.
Governo oportunista e intervenção ianque
A gerência de Ortega na Nicarágua, a exemplo dos demais governos
oportunistas eleitoreiros, carrega inúmeras denúncias de entreguismo,
retrocessos e corrupção. A aliança da FSLN com a Igreja católica
produziu uma das mais severas leis anti-aborto da América Latina. A
grande burguesia e o latifúndio foram imensamente beneficiados por
facilidades estatais, principalmente como fornecedores de carne e outros
produtos para a Venezuela e a Rússia. Ortega fechou acordo e aprovou
leis para a construção de um canal ligando os oceanos Pacífico e
Atlântico, construído e controlado pelos chineses, que rivalizaria
diretamente com o canal do Panamá, controlado pelo USA. Ortega e a
vice-presidente, sua esposa Rosario Murillo, são ainda acusados de
enriquecimento ilícito e de arregimentar jovens para constituição dos
grupos paramilitares sandinistas, entre outras coisas.
O imperialismo manobra cooptando lideranças da oposição, principalmente universitários, que pelo menos uma vez visitaram Washington e foram recebidos como altos dignitários por representantes do governo ianque. Este, por sua vez, não “dorme no ponto” e pretende utilizar a crise para obter maior controle possível.
O mundo assiste há cerca de dez anos um processo de grandes protestos populares que lograram inclusive derrubar governos em países como a Tunísia e o Egito. Foram, porém, cavalgados por interesses das mesmas classes dominantes locais e do imperialismo, o que não reverteu em realizações para as massas. A ausência da direção revolucionária capaz de guiar o povo nicaraguense aos altos cumes é um fato a se lamentar, mas defender sua justa rebelião e denunciar as manobras imperialistas é obrigação de todos os democratas e revolucionários.
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