Agitação denuncia a farsa eleitoral e recebe cumprimento de uma trabalhadora, setembro de 2022, RJ. Foto: Banco de dados AND
Há um dia do primeiro turno da farsa eleitoral, a disputa para a presidência de turno pode encerrar-se sem a segunda rodada. Bolsonaro plantou vento e colhe, agora, tempestade. Abriu os cofres públicos e estabeleceu as migalhas assistencialistas, num ato demagógico, esperando crescer nas pesquisas: fracassou. As massas não esquecem e não relevam os 700 mil mortos na pandemia, além de outros crimes seus. A distância entre ele e Luiz Inácio alcança já 13 pontos percentuais, na média das pesquisas.
O cabecilha petista pode triunfar no primeiro turno, não por ter genuíno apoio popular, mas, muito ao contrário, por duas razões. Primeiro porque Bolsonaro, como o outro mais cotado, chegou à cabeça do velho Estado por conta do fracasso do reformismo oportunista do PT que frustrou a maioria do povo. Frustrou-lhe, jogou por terra a máscara de defensor dos trabalhadores para aliar-se a banqueiros e usineiros. Não podendo enganar, falando em luta de classes, centrou em questões identitárias e de comportamento para fazer-se de esquerda, dando, assim, palanque para a extrema-direita saltar à cena política com Bolsonaro, que representa o que há de mais podre, reacionário, antipovo e obscurantista na política de nosso país, fazendo-o pior do que Luiz Inácio em tudo. Segundo, porque a rejeição de ambos os candidatos mais cotados a vencer é muito mais alta que a sua aprovação, o que faz com que as massas ainda desorganizadas e perdidas votem em um para que o outro não vença. E este é o fator principal, pois que expressa a farsa que são essas eleições.
Luiz Inácio, a cada segundo que passa, revela mais a sua natureza de conciliação de classes. Entenda-se, aqui, conciliação como a atividade-fim da manipulação dos sentimentos das massas, que por 40 anos ele aprendeu como nenhum dos serviçais das classes dominantes. Segue com sua promessa de garantir “picanha e cerveja”, desde que o povo aceite calado o agravamento da exploração e opressão máximas. Engano, pois, mesmo a “picanha” e a “cerveja” – como figuras de linguagem para se referir à elevação das condições materiais de vida do povo – será impossível, para ele, garantir.
A crise econômica é muito séria e, resultante dela, se agrava a divisão nos grupos de poder das frações das classes dominantes, são maiores os abalos institucionais e cresce, gradualmente, a violência reacionária como única linguagem da política. O que fará Luiz Inácio, tendo prometido um lugarzinho rendoso no seu governo para todos os setores – em pugna – das classes dominantes, por um lado, e prometido algo impossível de cumprir às massas, por outro? É certo que seria um dos governos mais frágeis da história dessa república burocrática. Seria um governo repleto de incoerências e paradoxos, que devorar-lhe-iam desde dentro. Crescentemente sem sustentação, só a poderia obter na tutela dos generais golpistas, que, no fim das contas, fariam deste, uma vez mais, um governo seu, com a careta que queira dar o eleito ou de Alckmin.
Passo nessa direção já está dado. Luiz Inácio, que repentinamente passou a usar a divisa do deus “mercado” (“credibilidade, previsibilidade e estabilidade”, imposta pela generalada golpista como “legitimidade, legalidade, estabilidade”), agora também divulgou seu projeto de Defesa. Lá consta: primeiro, criação da Guarda Nacional, para atuar em crises de segurança (mais um passo a diante na militarização do País) e modernização (entenda-se: adulação) das Forças Armadas (mais gasto de verbas e incremento de seu poder repressivo).
No lançamento do mesmo, como porta-voz de Lula, Celso Amorim adendou, quase pedindo desculpas por ter existido a Comissão – da meia – Verdade: “Vivemos um momento da Comissão Nacional da Verdade, que foi necessário. Esse momento está superado. Não vamos mexer mais nisso” (entenda-se: amém à generalada). Tacitamente, está também prometido não tocar no sistema de promoções e de formação nas academias militares, cujos subprodutos são oficiais obtusos como Hamilton Mourão e Luiz Eduardo Ramos, ademais da obrigatória condição anticomunista visceral e vocação golpista garantida para determinadas circunstâncias.
Já Bolsonaro, sentindo-se derrotado e com divisões no seio da própria campanha, avança nas chantagens e em suspeitas denúncias de que as eleições não são “limpas e seguras”. Seu partido, o PL de Valdemar Costa Neto (ora, o mesmo do mensalão!), denunciou “24 irregularidades” no Tribunal Superior Eleitoral, cuja conclusão é: “o código-fonte [da urna eleitoral] é controlado por um grupo muito restrito de servidores do TSE” e que, por isso, possuem “poder absoluto para manipular resultado das eleições sem deixar rastros”.
Como se vê, Bolsonaro segue mesmo sua cartilha de criar distúrbios. Sendo evidente que não terá força para triunfar através de um levante armado nos quartéis e nas ruas – talvez, hoje, sequer para levantar um movimento armado digno desse nome –, seu plano é vender a solução para o mesmo distúrbio, cujo preço é: a anistia para si e seus chegados.
Dos demais candidatos, nem valeria a pena falar, pois já estão derrotados. Ciro Gomes, que pretende-se homem “anti-oligarquia financeira”, mal se dá conta que seu “projeto nacional de desenvolvimento” está mais próximo do governo Geisel – em pleno regime militar – do que de algo nacional-democrático.
É hora, resolutamente, de levar com todas as energias o boicote à farsa eleitoral e fundir, ao estado de espírito sublevado das massas, a perspectiva estratégica, clara, que lhes falta. Unir ao seu conhecimento sensível sobre a podridão dessa velha ordem à propaganda viva da Revolução Democrática, Agrária e Anti-imperialista, para que não caia em ilusões e, se por ventura deixar-se cair, possa dela sair com mais clareza sobre a natureza dessa velha ordem. A palavra é simples: Não vote, luta pela Revolução!
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