Policiais retiram corpos durante a chacina do Jacarezinho ocorrida em 06 de maio na cidade do Rio de Janeiro. Foto: Ricardo Moraes
I
As ameaças de guerra civil proferidas pelo chefete de desqualificados que ocupa a presidência da república contra o movimento camponês de Rondônia – particularmente contra a Liga dos Camponeses Pobres (LCP) – continuam. Depois de dizer no dia 1º de Maio, para latifundiários, que a LCP instaura o terrorismo naquele estado e que vai combatê-la, disse seis dias depois, na inauguração de uma ponte em RO: “LP, se prepare!” – propositalmente errando o nome da organização camponesa – “não vai ficar de graça o barato que vocês estão fazendo”. Visivelmente acuado, esforçando-se intimidador e malogrando como de costume, prossegue: “Não temos espaço aqui para grupo terroristas. (sic) Nós temos meios para botá-los no eixo e fazê-los respeitar a lei”.
Como já analisado nos Editoriais anteriores, o nosso aspirante a Führer busca novamente levantar o fantasma do “terrorismo da LCP” para: 1) agitar suas bases fascistas na sociedade e nas Forças Armadas e auxiliares para propagandear a “única solução”: regime militar fascista, 2) generalizar o temor em toda a sociedade com a existência de “terrorismo” para esconder a enorme mortandade da qual é responsável como genocida, 3) tachar todo o movimento popular como terrorista.
O “fazê-los respeitar a lei” é flagrante do caráter anticamponês desse governo. Novamente, aqui, os “rigores da lei” valem para os camponeses pobres em luta pelo sagrado direito à terra, mas não aos latifundiários. Esses, acima das leis deste governo militar de fato e de toda a estrutura estatal reacionária, podem manter – como o fazem há séculos no país – seus exércitos particulares e bandos de assassinos para dominar o campesinato e explorá-lo sem piedade; para expulsá-los de suas terras, abusar de suas famílias, fazê-las servas ou escravas particulares em muitos casos etc. E os direitos da lei, bem, esses os camponeses, mesmos os tendo, não podem exercê-los, como o direito à terra sempre negado.
Por fim, salientamos: a pecha de “terrorista” pendurada sobre a LCP foi, também, posta sobre todos os que lutam. Em seu discurso de posse, disse que acabaria “com todo o ativismo no Brasil”. Nas manifestações estudantis, em meados de 2019, disse se tratarem de manifestações de “terroristas”; ao MST, cuja direção nacional há anos ordenou o fim das tomadas de terras, também coube o mesmo adjetivo: “terrorista”. Se faz, portanto, urgente uma campanha de denúncia e solidariedade com o movimento camponês de RO, envolvendo todos os setores democráticos e progressistas, sob pena de, amanhã, toda a luta popular ser posta na ilegalidade.
II
No Rio de Janeiro, uma operação terrorista – esta, sim – matou 28 pessoas e cerceou, como de costume, todos os direitos civis e individuais de uma massa de mais ou menos 80 mil pessoas que residem na favela do Jacarezinho. Os mortos, dizem as “autoridades”: são todos bandidos. Não foram apresentados sequer indícios de crimes cometidos por cada um na maioria dos assassinados. Aqui, novamente, não valem os direitos democráticos previstos no arremedo de constituição, segundo a qual um indivíduo só pode ser punido após provados seus crimes e individualizadas as condutas, dentro dos marcos da lei vigente. Não há pena de morte na lei, no entanto, morreram todos, executados, sem discernimento. Sem mencionar quantos inocentes, ou indivíduos que já pagaram por seus erros, foram mortos. A democracia e a letra-morta da constituição, nota-se, foram naquela favela canceladas por “decreto” de um delegadinho qualquer.
Alguns levantar-se-ão para dizer: “Este é o efeito colateral para eliminar a delinquência”. E não poderiam estar mais errados. O Estado brasileiro é um narco-Estado, viciado em toda sua estrutura pelo poder dessas máfias; a base social que domina esse Estado – a grande burguesia e os latifundiários, sobretudo estes últimos – são justamente os investidores de peso desse negócio extremamente rentável que é o tráfico internacional de drogas. (Ver matéria A íntima relação entre narcotráfico, agronegócio e política no Brasil, de Vasconcelo Quadros, da Agência Pública, no portal de AND).
A ponta final, consequência, são os varejistas que dominam as favelas. Jovens recrutados em meio à miséria, desesperança e frustração, para ser bucha de canhão. E lá a reação, os “moralistas”, depois de deixarem crescer o domínio paramilitar desses bandos delinquentes, servem-se disto para justificar desatar operações genocidas que mantenham as massas sob permanente estado de guerra e isoladas das organizações revolucionárias.
Sobre as drogas e armas de guerra, só podem ali chegar graças aos poderosos investidores, que passam-nas pelas fronteiras, pelas operações de controle, atravessam-na o país e as cidades para chegarem, intactas, nas favelas. Se quisessem os “moralistas” acabar com o tráfico de drogas precisariam, primeiro, se entender com os megaempresários internacionais das drogas (entre eles a própria CIA, que é responsável por movimentar bilhões de dólares no mercado internacional de drogas); e depois, no plano nacional, cuidar dos senhores latifundiários e os altos funcionários do Estado.
III
Esses acontecimentos revelam o agitar de uma contrarrevolução bestial e ensandecida. Com um Bonaparte de milícias na presidência, encorajam-se as ratazanas embaixo dele. As operações policiais no RJ, que cresceram mais de 180% nos últimos meses, são uma afronta aberta à decisão do Supremo Tribunal Federal, de cancelá-las durante a pandemia. Tais operações – em especial essa, do Jacarezinho – são uma séria tomada de posição, em que uma instituição policial estadual impõe xeque sobre a Suprema Corte. São sintomas não só da decomposição avançada de um Estado burocrático e genocida, mas também de uma grave enfermidade que, crônica, mais uma vez volta-se aguda: a tendência para o fascismo e o golpismo de sempre.
Quem desatou esse câncer – e são partes do mesmo – foram os senhores generais. Como seus cães de fila sabem que não é possível salvar o sistema de exploração e opressão que guardam da iminente ameaça de início de uma Revolução sem reestruturar o velho Estado, tomando de assalto a direção sobre ele – de forma dissimulada e operando nos bastidores, de preferência – para aumentar a exploração do povo e da subjugação da Nação e impor um Estado policial contra o povo em luta. Para tanto abriram o esgoto e de lá saiu o senhor Bolsonaro, contra o qual disputam a direção desse golpe de Estado. E a depender da indolência dos defensores desse “Estado Democrático de Direito” – esses que defendem a mesma base econômica mantida com “boas maneiras” – os únicos protestos contra o triste fim da democracia serão gesticulações.
O destino da Nação é mesmo a guerra civil. Quem a impõe, na Amazônia e nos centros urbanos, é esse governo militar de fato e o Alto Comando das Forças Armadas reacionárias, torcendo para que combatam num terreno sobre o qual haja apenas uma população desorganizada, desarmada, pronta para ser saqueada apaticamente. Os revolucionários devem, portanto, organizar o poder infinito das massas, hoje disperso, com o amplo apoio dos genuínos democratas. Isso decidirá a sorte dos combates por vir.
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