Reproduzimos abaixo nota emitida pela Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres e Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental (LPC), acerca da política de terror aplicada contra a luta pela terra e as organizações camponesas combativas.
Mesmo após o governo de Rondônia ter sido obrigado a recuar das tentativas que vinha fazendo de ilegalmente despejar e prender as famílias do acampamento Manoel Ribeiro, não cessaram nem um dia no intento de criminalizar a luta pela terra. E agora que não podem despejar as famílias do acampamento Manoel Ribeiro por força de decisão judicial que suspendeu por tempo indeterminado a injusta reintegração de posse contra os camponeses, ademais de seguirem fustigando o acampamento, aumentaram e se concentram na repressão aos moradores nas áreas vizinhas, aos camponeses, ativistas e apoiadores em todo o estado de Rondônia, aplicando verdadeira política de terror contra a luta pela terra e as organizações camponesas combativas.
Quem tem acompanhado nossas últimas notas distribuídas ou publicadas na internet, sabe que desde o fim de março o governo de Rondônia, pressionado pelos latifundiários ladrões de terra da União, não mediu esforços em atacar as famílias do acampamento Manoel Ribeiro, que tem a posse das terras da fazenda Nossa Senhora Aparecida (parte restante das terras da fazenda Santa Elina) no município de Chupinguaia, próximo ao município de Corumbiara. As mesmas terras que em 1995 foram palco da heroica resistência camponesa, no que ficou conhecido como “massacre de Corumbiara”. O governador Marcos Rocha como marionete dos latifundiários, designou o carniceiro de Santa Elina, o seu secretário de segurança J.H.Cysneiros Pachá, que tem as mãos sujas de sangue pela tortura e matança cometidas em 1995, para cometer um novo massacre de camponeses.
Na tentativa de despejar as famílias, montaram verdadeira operação de guerra contra os camponeses, e cometeram inúmeras ilegalidades. Durante semanas mantiveram o acampamento sitiado por tropas e viaturas da polícia militar, ocuparam as estradas da região, e diariamente realizaram sobrevoos de helicópteros e drones nas tentativas de invadir o acampamento com tropa de choque, atirando com balas de borracha, com bombas, gás pimenta, e inclusive com disparos de munição real. Suspenderam o serviço público de saúde na região (incluindo a vacinação), bloquearam as estradas impedindo livre trânsito de moradores, realizaram blitzes arbitrárias onde cometeram toda sorte de abusos, como intimidações, ameaças, espancamentos, e prisões de quem acusavam de pertencer ou apoiar o acampamento.
Bloqueio de estrada feito pela polícia militar próximo a área Manoel Ribeiro. Foto: Resistência Camponesa
Policial militar faz ameaças a moradores através de ligações telefônicas. Foto: Resistência Camponesa
Ao centro o carniceiro de Santa Elina, Cysneiros Pachá, secretário de segurança do governador Marcos Rocha, marionete de latifundiários. Foto: Resistência Camponesa
Policiais na sede da Fazenda Nossa Senhora Aparecida. Foto: Resistência Camponesa
Pistoleiro Antônio Marcos Pires posa para foto em curral de onde partiam para atacar as famílias do acampamento Manoel Ribeiro. Foto: Resistência Camponesa
Policial pistoleiro Emerson Pereira de Arruda, sargento da PM que comandava bando armado do latifundiário Toninho Miséria. Foto: Resistência Camponesa
Mesmo diante de tanto esforço do governo de latifundiários em varrer com o acampamento Manoel Ribeiro, e mesmo contando com grande aparato militar e muitos recursos (com dinheiro dos nossos impostos), não foram capazes de derrotar a justa luta das famílias do acampamento Manoel Ribeiro. Todas as vezes em que investiram contra a área Manoel Ribeiro, a polícia foi repelida pela justa e ativa resistência dos camponeses.
Essa justa resistência tem repercutido e ganhado apoio e solidariedade por todos os cantos do país e também do mundo. E desde aqui, aproveitamos a oportunidade para expressar nossos sinceros agradecimentos às diversas e importantes manifestações de apoio e solidariedade à nossa luta.
Placa na entrada da área Manoel Ribeiro. Foto: Resistência Camponesa
Camponeses repeliram todos ataques da PM contra o acampamento. Foto: Resistência Camponesa
Resistência das famílias do acampamento Manoel Ribeiro recebem apoio de todas as partes. Foto: Resistência Camponesa
Durante a resistência, barreiras foram levantadas para impedir o avanço da PM. Foto: Resistência Camponesa
Camponeses resistindo aos ataques diários da PM nas primeiras semanas de abril. Foto: Resistência Camponesa
Faixa na entrada da área Manoel Ribeiro deixa claro a firmeza das famílias acampadas. Foto: Resistência Camponesa
Famílias da área Manoel Ribeiro resistindo a investidas da PM. Foto: Resistência Camponesa
Após a suspensão da reintegração de posse, a polícia permanece até o presente momento na região, seguem incrementando o terror de Estado no campo, através do que cinicamente chamam de operação “paz no campo”. Seguem incomodando e prejudicando a população da região, seguem mantendo as blitzes arbitrárias, abordando as pessoas a torto e a direito, esculachando, humilhando, intimidando, ameaçando de morte, espancando e cometendo as mais diversas ilegalidades. Aumentaram os efetivos policiais à paisana, e que muitas vezes andam acompanhados de pistoleiros, percorrendo todas as áreas camponesas, intimidando, fazendo interrogatórios, buscando identificar e prender qualquer um que seja acusado por eles de simplesmente apoiar ou pertencer ao acampamento Manoel Ribeiro.
Nesse sentido já realizaram várias prisões de moradores da região, e de outras localidades, como no distrito do Guaporé. Em muitas dessas prisões ilegais, levaram as pessoas para Vilhena ou delegacias de outras localidades. Essas pessoas foram mantidas presas ilegalmente por vários dias, e relataram que foram constrangidas, humilhadas, ameaçadas e submetidas a interrogatórios onde os policiais insistiam em saber informações sobre o acampamento Manoel Ribeiro.
A casa da professora Juliana, que dá aulas para crianças das áreas camponesas Zé Bentão, Renato Nathan e Maranatã I e II foi ilegalmente invadida por policiais à paisana, na madrugada do dia 16 de abril. Testemunhas que presenciaram a invasão policial afirmaram que nenhum mandato foi apresentado. Antes de cometer a invasão os policiais arrombaram a porta e depois reviraram toda a casa. Não satisfeitos, dias seguintes realizaram nova invasão, reviraram os pertences pessoais dos moradores mais uma vez, além de tirar fotografias.
Policiais à paisana invadiram ilegalmente a casa da professora durante a madrugada. Foto: Resistência Camponesa
Esses policiais à paisana, tem feito perguntas aos moradores da região, na tentativa de localizar e prender a professora Juliana, como se fosse uma perigosa criminosa. Para a polícia, os “graves crimes” cometidos pela professora, são apoiar a justa luta pela terra, denunciar os desmandos do latifúndio e do governo a seu serviço. Por isso movem tal perseguição ao arrepio da lei que dizem defender. Da mesma forma estão perseguindo e caçando vários outros moradores da região, por terem sido apontados por alguém após espancamentos e interrogatórios, como apoiador, acampado ou “liderança” do acampamento Manoel Ribeiro. Muitos que sequer tem participação ou relação com o acampamento Manoel Ribeiro, estão sendo caçados, inclusive tem fotos nos celulares de policiais, que são exibidas (como se fossem de criminosos) aos moradores da região durante os interrogatórios.
Esses mesmos policiais a paisana, frequentemente aparecem nas casas dos moradores da região com a conversa de que querem ajudar, que são do Incra, que podem ajudar na regularização de terras para “reforma agrária”, que prestam assistência jurídica, dentre outras mentiras, e por isso dizem que buscam informações com as melhores das intenções. Em muitos casos, nessas mal disfarçadas incursões, fazem uso de carros descaracterizados, ou para despistar que são agentes repressivos do velho Estado chegam a utilizar carros de empresas privadas, como é o caso da BRASLUZ. Frequentemente carro com marca dessa empresa é visto nessas incursões nas áreas. Oficialmente tal empresa tem sede na cidade de Ji-Paraná, e atua no ramo de materiais elétricos, e “estranha” e “coincidentemente” em diferentes ocasiões presta serviços para órgãos do governos em vários níveis, e para diversas organizações das reacionárias forças armadas brasileiras.
Policiais à paisana interrogando moradores da região. Carro da empresa Brasluz era utilizado pelos policiais. Foto: Resistência Camponesa
E o terrorismo de Estado se espalha por toda Rondônia. Nos últimos dias, a polícia invadiu a sede da LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental, na cidade de Jaru, à caça de “lideranças” da greve do leite dos pequenos produtores que protestam contra o aviltamento do preço do seu produto pelos laticínios monopolistas, numa clara demonstração de que buscam elevar ao máximo a criminalização da nossa organização.
Não é a primeira vez que nossa sede é invadida. Mas agora é diferente porque já não escondem a sanha reacionária contra nós. De outras vezes sempre se utilizaram de elementos degenerados e bandidos, para realizar o trabalho sujo. É modus operandi da polícia por nós já bastante conhecido. Recentemente se utilizaram mais uma vez disso contra o acampamento Manoel Ribeiro, pagaram elementos degenerados para sabotar uma das barreiras colocadas pelas famílias para impedir o fácil acesso da polícia quando esta ataca o acampamento. Tal ação criminosa foi frustrada, e o seu executor confessou que foi pago e agiu a mando de policiais.
No dia 15 de abril, o camponês Jerlei da área Tiago dos Santos, foi assassinado na linha 29 a caminho de União Bandeirantes. Ele foi interceptado por caminhonete e uma moto. Após abordagem foi colocado de joelhos e em seguida executado covardemente. Para despistar o crime de execução roubaram seu celular e moto. Mas em tal ação de pistolagem, fica claro os vestígios de atuação policial que integram e comandam bandos armados do latifúndio. Na execução do camponês se utilizaram de munição de pistola calibre .40 usada pela PM.
Camponês Jerlei assassinado na linha 29 a caminho de União Bandeirantes no dia 15 de abril. Foto: Resistência Camponesa
Todos esses fatos recentes, não são isolados, mas são parte da política de terror e criminalização movidas pelo latifúndio e o velho Estado contra a luta pela terra e suas organizações, particularmente a LCP.
A verdade é que esse governo de latifundiários, com seu gerente de turno, o coronel pm Marcos Rocha, marionete de latifundiários, é incapaz de qualquer política que não seja a sanguinária como a do “Massacre de Corumbiara de 1995” contra o povo pobre em luta. Mas o problema para o governo é que não contavam com a resistência das famílias do acampamento Manoel Ribeiro e o grande apoio recebido. Ademais aplicar a política de massacre nesse momento, na região amazônica, e nas mesmas terras da antiga Santa Elina já encharcada de sangue camponês e indígena, teriam grandes repercussões e por isso seria uma “inconveniência” política, ainda mais no atual momento de grave crise que passa nosso país. Por isso, enquanto adiam os preparativos para um novo massacre, o governo de latifundiários se vê obrigado a elevar às alturas os ataques à luta pela terra com campanhas de satanização da LCP. Nos pintam como o pior dos demônios, como malfeitores, bandidos, terroristas e gente preparada para cometer todo tipo de maldades, etc. Dizem que nosso objetivo não é o acesso à terra pelo povo, mas o de manipulá-lo ideologicamente e como massa de manobra para outros interesses (na verdade, essa é a prática de vocês senhores politiqueiros, sempre em busca de votos enganando o povo), além de difamações e calúnias. Fazem tudo isso com claro objetivo de criar opinião pública para criminalizar a luta pela terra, de modo a justificar a perseguição e repressão aos camponeses organizados. Para assim facilitar a aplicação de seus sinistros planos de execuções encobertas, como é o caso dos assassinatos de vários companheiros e companheiras e o recente do camponês Jerlei, promover verdadeira caçada como o dossiê que circularam na internet logo após o despejo do Tiago dos Santos, com fotos de alguns militantes da LCP e seus filhos, junto a de pistoleiros, inclusive cinicamente com fotos de companheiros que assassinaram covardemente, perseguindo e prendendo todos aqueles que de alguma forma lutam contra o latifúndio ladrão de terra da União e a concentração de terras nas suas mãos.
Por mais que tentem, por mais repressão, ataques e campanhas, não vão conseguir parar a luta pela terra. A existência do latifúndio e da concentração de terras nas mãos de um punhado de parasitas ladrões de terra da União, enquanto milhões de famílias não têm acesso à terra para plantar e viver com dignidade é problema secular, está na base da situação de atraso da Nação, pobreza da maioria do nosso povo e de todas desigualdades e injustiças absurdas de nossa sociedade. Enquanto esse problema não for resolvido, ninguém pode parar a luta pela terra. E se nos atacam com tanta força é justamente porque estamos no caminho certo, porque representamos uma ameaça aos indecentes privilégios dos poderosos e endinheirados que se nutrem deste putrefato sistema de exploração e opressão secular de nosso país.
Seguiremos firmes, com a certeza que a luta camponesa expressa o novo, defendemos uma causa justa, lutamos pelos interesses da maioria, lutamos pelos direitos mais básicos e sagrados, para ter um pedaço de terra para viver, trabalhar e tirar o sustento de nossas famílias com dignidade, o que só se alcançará com a revolução agrária e além disso lutamos por justiça, por um poder de nova democracia e um Brasil novo sem exploração nem opressão, para nossos filhos e netos.
Conclamamos a todos verdadeiros democratas e honestos a somarem apoio à luta dos camponeses do acampamento Manoel Ribeiro, às demais áreas camponesas em Rondônia, e a LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental. E conclamamos a todos verdadeiros democratas e honestos que se levantem contra as ilegalidades cometidas pelo governo de Rondônia, contra as perseguições, prisões e assassinatos de lutadores, dentro da atual campanha reacionária de criminalização da luta pela terra.
Viva a resistência dos camponeses do acampamento Manoel Ribeiro!
Defender a posse pelos camponeses das terras da área Manoel Ribeiro!
As terras da antiga Santa Elina são do povo!
Abaixo a criminalização da luta pela terra! Fim das perseguições e prisões!
Fora das nossas áreas, polícia guaxeba do latifúndio ladrão de terra da União!
Conquistar a terra, destruir o latifúndio!
Terra para quem nela trabalha!
Viva a Revolução Agrária, morte ao latifúndio!
Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
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