Jornal A Nova Democracia - Reproduzimos na íntegra a nota da Liga dos Camponeses Pobres (LCP) divulgada no blog do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo) no
dia 25 de setembro de 2019. O texto traz denúncias de ameaças,
intimidações e abusos cometidos pelas Forças Armadas reacionárias contra
camponeses da área Enilson Ribeiro, localizada no município de
Seringueiras, em Rondônia, nas primeiras semanas de setembro.
FORÇAS ARMADAS REACIONÁRIAS AMEAÇAM CAMPONESES EM SERINGUEIRAS (RO)
No
dia 7 de setembro dezenas de homens das Forças Armadas e Força Nacional
desembarcaram na área Enilson Ribeiro, município de Seringueiras
(Rondônia), permanecendo na área por uma semana realizando operação
baseada na GLO (Garantia da Lei e da Ordem) por ordem do defensor dos
latifundiários Bolsonaro e seu governo de generais.
A
justificativa usada para a presença de tropas militares numa área
camponesa foi o combate a incêndios, mas isso não passou de cortina de
fumaça. A verdade é que não fizeram concretamente nada em relação ao
fogo. O real motivo da presença das tropas era incrementar a
militarização na região, reprimir e intimidar os camponeses que
enfrentam injusta ação de despejo movida absurdamente pelo próprio
Incra.
Obra do artista carioca Antônio Kuschnir em apoio à luta da Liga dos Camponeses Pobres
Camponeses
da área relataram que durante uma semana os militares das forças
armadas reacionárias cometeram todo tipo de intimidação, ameaça, abuso e
humilhações. Invadiram e revistaram casas de camponeses, apreenderam
espingardas de caça, buscaram insistentemente informações sobre as
lideranças, sobre quando seriam realizadas as reuniões e assembleias e
sobre os advogados que defendem as famílias. Fizeram ameaças de prisão a
torto e a direito, inclusive dos advogados. Além de clara intenção de
cercear o direito de livre associação e de defesa das famílias, em
diversos momentos não faltaram declarações caluniosas visando
criminalizar a luta dos camponeses e a LCP – Liga dos Camponeses Pobres.
Centenas
de famílias camponesas lutam por essas terras há vários anos. Em 2016
enfrentaram forte repressão, o acampamento foi cercado por grande
aparato da polícia militar e as famílias resistiram bravamente por
vários meses. Após negociações foi feito acordo com o Incra e os
camponeses concordaram em sair da área com o compromisso estabelecido de
que as famílias participantes da ocupação não seriam perseguidas, e que
receberiam lotes na fazenda Bom Futuro após encerramento do processo
que corria no judiciário contra o latifundiário ladrão de terra. Os
camponeses tinham razão, tempos depois, o judiciário (que normalmente só
toma decisões em favor dos latifundiários) se viu obrigado a determinar
a retomada da fazenda Bom Futuro para a União, comprovando o que os
camponeses afirmavam e toda a população de Seringueiras já sabia: a
fazenda era terra pública, grilada pelo latifundiário Augusto Nascimento
Tulha, grileiro e médico oficial reformado do Exército.
Após
os camponeses saírem da área, o velho Estado não cumpriu com nenhum dos
compromissos. Dezenas de acampados foram perseguidos e processados.
Depois de quase 2 anos, em abril de 2018 centenas de camponeses
retomaram as posses das terras e permanecem produzindo nelas desde
então.
Placa na estrada que dá acesso à área Enilson Ribeiro. Foto: Jornal Resistência Camponesa
O
Incra, agora comandado por um general insiste em ignorar e descumprir o
acordo feito em 2016 e não reconhece a posse dos camponeses. Querem
despejar milhares de pessoas que produzem nas suas terras para engrossar
o crescente exército de desempregados e despossuídos e “assentarem”
apenas pessoas indicadas pelos latifundiários da região e seus
apadrinhados políticos.
Assim
como recentemente ocorreu em Rio Pardo, pretendem despejar camponeses
de suas posses em Seringueiras se utilizando de tropas das forças
armadas reacionárias. E a imprensa esconde tudo isto.
O
que teme esse governo latifundista é que a resistência e luta dos
camponeses de Seringueiras, sirva de exemplo e por isso move tropas
contra os camponeses. Se enganam se acham que sempre poderão derrotar o
povo. Os camponeses precisam da terra para sobreviver, não querem e não
podem abrir mão dela. Por isso não se intimidam, persistem na luta e é
exatamente dessa persistência, da luta para superar inúmeras
dificuldades, e tirando lições de sucessivas derrotas, que os camponeses
estão conhecendo o caminho da vitória e mais cedo que tarde os
camponeses se levantarão em grandes ondas varrendo e tomando todas as
terras do latifúndio seguindo o caminho da Revolução Agrária como parte
da Revolução de Nova Democracia!
Nem Bolsonaro! Nem Mourão! Nem Congresso de corruptos! Fora Forças Armadas reacionárias! Pela Revolução de Nova Democracia!
Defender a posse pelos camponeses da área Enilson Ribeiro!
Terra pra quem nela vive e trabalha!
Comissão Nacional das Liga dos Camponeses Pobres
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