O salão da matriz da Igreja católica estava todo decorado com bandeiras de movimentos populares democráticos, arranjos de flores, bandeiras com o rosto de Renato e um grande painel com uma foto dele. O ato foi aberto com o canto do hino da Revolução Agrária “Conquistar a terra”. Depois foram apresentados vídeo, texto, poesia e músicas lembrando e homenageando a vida e luta de Renato.
Os representantes das entidades presentes se pronunciaram. Em seguida, a viúva do Renato, seu pai e seu irmão receberam uma singela homenagem: flores e quadros do companheiro, ornados com uma fita vermelha. Esta foi uma das partes mais emocionantes de todo o ato.
Em seguida, os participantes realizaram uma vigorosa manifestação pelas ruas de Jaru. Organizados em 4 filas, empunhando faixas, bandeiras e o grande painel com a foto do Renato, gritando palavras de ordem e distribuindo panfletos divulgavam a verdade sobre a vida, luta e morte do companheiro. Os trabalhadores dos comércios, obras e escritórios paravam o trabalho para ver e ouvir a passeata com atenção. Nenhum panfleto ficou no chão. Ex-alunas do professor Renato fizeram questão de carregar faixa e bandeiras com o rosto dele.
Tudo foi muito bonito e organizado. Várias pessoas passaram a noite anterior viajando, outras ficaram acordadas trabalhando nos últimos preparativos. Era bonito ver a disposição dos companheiros, sem nenhuma reclamação, revelando uma consciência elevada sobre a importância da homenagem. Os participantes se dividiram para realizar as taredas de cozinha, segurança, limpeza, organização, decoração e atividades culturais.
O clima entre todos era de muita revolta, tristeza, união, companheirismo, admiração pelo exemplo de Renato, vontade de servir ao povo e consciência da necessidade de continuar sua luta.
A verdade sobre a vida e luta de Renato e seu covarde assassinato
Segundo informações de moradores, a moto de Renato estava em pé, com a seta ligada e com o capacete no guidão, que é o comportamento padrão dos moradores da região diante de uma abordagem policial. No corpo de Renato havia sinais de tortura. Ele foi atingido por um tiro a queima roupa no rosto e dois tiros na nuca. No Boletim de Ocorrência consta que a polícia foi acionada por volta das 5:53 da manhã do dia 10. Mentira, pois nas fotos do corpo do companheiro no local do assassinato é possível ver que ainda estava escuro. No dia seguinte, com a desculpa de avisar parentes, a polícia arrombou a casa do Renato sem ordem judicial e sem a presença de testemunha. Pelo menos 10 policiais civis e militares reviraram seus pertences e cavaram buracos no quintal, enquanto sua obrigação era identificar os assassinos dele. A polícia não chamou a perícia, não procurou cápsulas deflagradas.
O ato cumpriu o objetivo de desmoralizar a polícia, verdadeiros bandidos. A verdade é que a polícia de Ouro Preto assassinou o companheiro Renato sob o manto de proteção do comando do major Ênedy. Desde que este assumiu a PM de Ariquemes oficializou-se uma campanha orquestrada entre latifundiários, aparato repressivo do Estado, judiciário, pistoleiros, bandidos e oportunistas para assassinar os camponeses que resistem em lutas cada vez mais massivas pela terra.
Após o covarde assassinato de Renato a polícia afirmou que a LCP é responsável por 80% dos assassinatos em Buritis, que a LCP estava vinculada com roubo de madeira e gado, violência e humilhação contra trabalhadores em tomadas de terra. Sem prova alguma, a polícia disse que Renato não era professor e sim pistoleiro e traficante de armas. Mentiras desprezíveis para confundir a população.
O ato resgatou quem realmente foi Renato: por onde quer que tenha passado deixou uma infinidade de amigos pelo seu jeito simples de tratar as pessoas, por sua enorme dedicação ao trabalho, senso de justiça e solidariedade. Também era contagiante sua firmeza, coragem e sua fé inabalável na luta combativa e organizada do povo. Renato tinha 28 anos, era casado e pai de uma filha de 2 anos. Ele não se contentava em ter seu pedaço de terra e cuidar de sua vida, lutava para que todos camponeses pobres conquistassem este direito e lutava para deixar um mundo melhor para sua filha e as futuras gerações.
O ato resgatou quem é a LCP. O latifúndio e o velho Estado têm tanto ódio do movimento camponês combativo porque têm medo que a grande massa de camponeses pobres sem terra ou com pouca terra se organizem, saibam que a luta pela terra é justa, é sagrada e que este direito só será conquistado com luta.
Seguir e ampliar a luta pela punição dos assassinos de Renato
A Abrapo – Associação Brasileira de Advogados do Povo fez uma Carta responsabilizando o governador Confúcio Moura (PMDB) e a presidente Dilma (PT) pelo assassinato covarde de Renato e outros camponeses em luta pela terra. A Carta já conta com quase 200 assinaturas de movimentos e entidades populares democráticas e de Direitos Humanos, advogados, médicos, intelectuais, professores e estudantes, profissionais liberais e outros trabalhadores do Brasil e de vários países. É importante seguir e ampliar esta campanha. É importante unir todos movimentos populares democráticos para defender a luta camponesa combativa, enfrentar e impedir reintegrações de posse de áreas onde camponeses vivem com dignidade, produzem e dão um destino social à terra. É importante seguir a luta e o sonho do companheiro Renato.
LCP – Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
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