Missão de solidariedade denuncia torturas contra camponeses em Rio Pardo
|
A
população de Rio Pardo, Rio Branco, Jacinópolis, Jacilândia, Rio Alto,
Minas Novas é composta de trabalhadores que apostaram tudo que tinham
nestas terras depois de viverem em várias partes de Rondônia. São
camponeses, pequenos comerciantes, professores, profissionais liberais e
pequenos madeireiros que produzem riquezas com seu esforço e sacrifício
diário, sofrem com a falta de estradas, com falta de hospitais, falta
de escolas e com as constantes ameaças de despejo por parte do Estado.
Toda esta região é muito rica em terras férteis, madeira, minérios,
recursos hídricos e se situa numa longa faixa de terras que se estende
até a fronteira da Bolívia.
A caminho de Rio Pardo, a Missão foi
abordada numa das barreiras policiais que controlam o acesso à área e
foi acompanhada por uma viatura da COE todo o tempo que esteve em Rio
Pardo.
A Missão foi recebida por moradores
locais e realizaram conversas e entrevistas, colhendo informações
importantes que desmentem a versão do monopólio dos meios de comunicação
que tenta esconder que a origem do conflito da semana passada foi o não
cumprimento do acordo que os governos Dilma Roussef (PT) e Confúcio
Moura (PMDB) firmaram com as famílias de Rio Pardo no ano passado.
Anos de abusos do ICMBio foram o estopim para a revolta camponesa
Na quinta-feira, dia 14 de novembro,
três viaturas da Força Nacional se deslocaram à Rio Pardo, para reforço
da repressão. Uma viatura ficou pendurada numa ponte cortada pelos
moradores. Irritados e com truculência, policiais prenderam mais 3
camponeses que circulavam pela estrada. Isto revoltou ainda mais os
moradores, centenas se reuniram e se organizaram para impedir que os
presos fossem levados para Buritis. A polícia disparou balas de borracha
e bombas de gás e efeito moral, mas eles eram a única força policial no
local e não conseguiram enfrentar os camponeses que reagiram com
pedras, paus, rojões, escudos e fogo.
Os policiais tiveram que sair correndo,
na fuga desesperada deram vários tiros de fuzil nas casas e comércios e
perderam armamentos e munições pelo caminho.
Os efetivos da Força Nacional que
atuaram em Rio Pardo são os mesmos que reprimiram os operários grevistas
de Jirau e Santo Antônio e ajudaram a despejar acampamentos de
camponeses em luta pela terra.
A ministra do meio-ambiente, Izabella
Teixeira, no conforto de seu gabinete em Brasília, talvez não saiba da
disposição dos camponeses de resistirem nas terras e disse após os
conflitos que os moradores serão retirados de Rio Pardo e que não iria
interromper as ações repressivas. Discurso demagógico para dar
satisfação a opinião pública internacional, pois ao mesmo tempo que o
governo fala em preservação, na prática privilegia o agronegócio e a
devastação feita pelos grandes latifundiários e ataca violentamente o
povo trabalhador da Amazônia. Por que o ICMBio e as forças policiais não
reprimem grandes latifundiários e políticos estaduais que possuem
grandes extensões de terras em áreas de preservação ambiental nesta
mesma região?
O ICMBio é um dos órgãos do velho Estado
que recebe recursos bilionários e treinamento de ONGs e Universidades
americanas e europeias para cacarejar sobre meio ambiente e
sustentabilidade, aplicando a política de expulsão dos camponeses da
Amazônia e criação de grandes reservas para atender os interesses dos
grandes monopólios brasileiros e estrangeiros na região.
Estado de sítio e torturas
Desde a manhã de sexta-feira, dia 15,
dezenas de homens, 47 viaturas da Polícia Federal, COE, Polícia Civil,
Polícia Rodoviária Federal e 2 helicópteros do Exército e ICMBio, estão
na região de Rio Pardo. Um verdadeiro aparato de guerra foi montado, com
barreiras nas estradas e pontes para controlar as entradas e saídas de
moradores. Os moradores de Rio Pardo seguem ameaçados de despejo e
efetivos policiais continuam controlando a área.
A imprensa reproduzindo as orientações
da polícia tem noticiado que esta operação é para periciar a viatura
incendiada, mas há relatos de que esta operação seria para resgatar
armamentos, incluindo um fuzil, perdidos durante a fuga dos policiais da
Força Nacional. Moradores denunciaram que pelo menos 3 camponeses foram
brutalmente torturados, com sessões de espancamentos, choques e tortura
psicológica. Um escritório de dentista localizado em Rio Pardo foi
destruído por policiais e o proprietário foi espancado após entregar
algumas granadas e munições recolhidas após o confronto e que teriam
sido abandonadas pelos policiais. Em nota a polícia disse que teria
achado o material.
Um outro morador foi preso acusado de
ser o autor do disparo que matou o policial, mas seu suposto nome
(Iranildo) só foi divulgado posteriormente, típico de maquinações feitas
pela polícia para atacar e criminalizar a luta do povo em geral e dos
camponeses de Rondônia em particular.
Missão de solidariedade
Na sexta-feira, dia 15, uma comissão de
advogados, estudantes de direitos e representantes de entidades
democráticas visitou os 10 moradores de Rio Pardo, presos no presídio
Pandinha, em Porto Velho. Advogados populares já estão trabalhando na
defesa destes camponeses.
A Missão vai exigir apuração dos casos
de tortura por parte da OAB, Ministério Público e Secretaria de Direitos
Humanos. No fim de outubro, o Ministério Público realizou audiência
pública para cobrar explicações sobre abordagens violentas da PM e Força
Nacional contra moradores de Campo Novo, Jacinópolis, Rio Pardo e
outras áreas da região de Buritis. Ao final da audiência, foi anunciado
que teria acabado a violência na região, mas isto não é possível
enquanto existirem despejos de camponeses em luta pela terra e
perseguições do ICMBio aos moradores que vivem e trabalham na terra.
Todos democratas devem se unir e
organizar uma campanha nacional e internacional de denúncia sobre a
repressão aos camponeses e responsabilizar os governos de Dilma e
Confúcio por não apresentar solução para o problema agrário que
enfrentam as quase 5 mil famílias que vivem e trabalham na área assim
como dezenas de outros casos parecidos em todo Brasil. Só assim será
possível desmascarar as mentiras e manipulações dos monopólios dos meios
de comunicação, que justificam ações violentas de todo tipo contra os
camponeses pobres e trabalhadores da Amazônia em geral. Tememos que nos
próximos dias ocorram mais atos de violência contra a população de Rio
Pardo. Precisamos de uma grande campanha para defendê-los.
Defender a posse das terras de Rio Pardo pelos camponeses!
Liberdade imediata dos camponeses presos e fim das perseguições!
Todo apoio aos trabalhadores de Rio Pardo e região!
ABRAPO – Associação Brasileira de Advogados do Povo
CEBRASPO – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos
No hay comentarios:
Publicar un comentario