martes, 26 de enero de 2016

BRASIL: RONDÔNIA: QUEM É TERRORISTA E CRIMINOSO?

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RONDÔNIA: QUEM É TERRORISTA E CRIMINOSO?





Em entrevista ao Canal 35 no dia 15/01/2016, e durante visitas ao 7º Batalhão da PM em Ariquemes (14/01/2016) e às cidades Monte Negro e Buritis (15/01/2016), onde se encontrou com entre outros o Prefeito Miotto Júnior (ver matéria), o Tenente-Coronel Ênedy atacou violentamente o movimento camponês:

“O coronel também frisou a atuação de criminosos disfarçados de sem-terras, que ele classificou como criminosos. “Quem invade, destrói, tortura pessoas, mata e queima propriedades só pode ser chamado de terroristas. Essas quadrilhas tem que ser punidas dentro do rigor da lei, se possível, na Lei Nacional de Segurança, que prevê esse tipo de ação criminosa. Tenho a determinação do governador Confúcio e do secretário de Segurança para atuar diretamente e combater os conflitos agrários na região. Eu comandei o 7º Batalhão e houve um tempo de calmaria durante a minha passagem por aqui. Daremos uma atenção especial para o Vale do Jamari nesta questão envolvendo a violência no campo.”
O atual Comandante da PM de Rondônia nutre um ódio mortal pela Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental, desde que foi denunciado por receber uma boiada para cumprir reintegrações de posse contra camponeses que legitimamente lutavam pela terra, no início de sua “carreira” em Jaru.
A partir de então, fez de tudo para criminalizar o movimento. Foi testemunha de acusação contra o camponês Ruço, injustamente acusado de ter assassinado um pistoleiro do latifundiário “Galo Velho” (o qual constava com destaque em uma publicação oficial sobre a grilagem de terras no Brasil). Os pistoleiros de “galo velho” aterrorizavam a população local nas estradas vizinhas à propriedade, armados e ao arrepio da lei parando camponeses nas estradas, destruindo pertences e humilhando pessoas. Ruço foi absolvido. No dia do julgamento, um advogado de um outro camponês acusado, também absolvido, relembrou o dia em que o então Presidente João Figueiredo entregou as terras que estavam griladas por Galo Velho às famílias que então povoavam o nascente Estado de Rondônia. Ênedy, que foi testemunha de acusação, ficou desmoralizado, e acabou confessando que policiais atuavam “fora do horário de serviço” para latifundiários da região. Serviço de pistolagem, nós afirmamos!
Talvez tenha sido neste período que Ênedy foi cooptado pelos órgãos de “inteligência” do Estado, pois passou a ser figurinha carimbada nas reportagens que acusavam a Liga dos Camponeses Pobres de ser uma extensão no Brasil do Sendero Luminoso, das Farc, praticante de guerrilha, etc., etc., etc. Ninguém se espante se o Major hoje acusar a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia de ser o braço do Estado Islâmico no país (o teor de suas declarações recentes o comprovam).
Frustrado em suas primeiras investidas, Ênedy logo se acobertou no guarda-chuva das reuniões promovidas pelo Ouvidor dos latifundiários Gercino José da Silva nas chamadas reuniões “Paz no Campo”. Ele estava presente quando os companheiros Élcio e Gilson participaram de uma destas, onde foram identificados e depois seqüestrados, torturados e assassinados. Nesse período, para compensar seu serviço sujo,foi alavancado pelo latifúndio e pelas agências que o cooptaram em cargos na corporação e na estrutura de poder do Estado.
Foi quando Ênedy assumiu o Comando do 7º Batalhão da PM de Ariquemes que a violência explodiu na região. O índice de criminalidade foi um dos maiores do Brasil. A violência em Ariquemes neste período lembrava a que aconteceu em Marabá, no Pará, nos idos dos anos 70/80. E esta violência partia principalmente dos grupos de extermínio e esquadrões da morte com a participação de militares sob o Comando de Ênedy. A cidade crescia graças principalmente à conquista da terra por centenas de famílias camponesas, que produziam e compravam como nunca antes, e a violência decorria da reação do latifúndio que via seus privilégios e desmandos afundar, diante das novas forças e relações econômicas que surgiam.
Nesse período, centenas de pobres foram assassinados por estes grupos de extermínio e esquadrões da morte. Dezenas de camponeses que lutavam pela terra foram assassinadas: o casal Tonha e Serafim, Oziel, Zé Bentão, Élcio, Gilson, Renato Nathan, entre muitos outros, da Liga e de outras organizações.
Vejam o que a CPT publicou em 16 de outubro de 2014:
“Milícia armada era contratada pelas fazendas da região de Ariquemes.
‘Capangas’, ‘milícias’, agentes penitenciários e policiais militares fortemente armados eram contratados para realizar ‘segurança’ nas fazendas da região de Ariquemes, sob a coordenação de um oficial da Polícia Militar e ex-comandante do 7º Batalhão de Ariquemes.
A acusação, que não cita o nome do referido oficial, foi revelada ontem 15 de outubro de 2014 em Ji Paraná, na 733ª Reunião da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, acontecida na Câmara de Vereadores da cidade.
A informação teria partido de relatório do Núcleo Integrado de Inteligência da própria Polícia Militar, segundo a qual ‘se as autoridades não tomarem providências a situação poderá eclodir em graves conflitos agrários entre os proprietários rurais e os trabalhadores rurais sem-terras, inclusive assassinatos de ambos lados’.”
E então, quem é terrorista e criminoso?
Mas é desse tipo de “comando” que um Estado em decomposição econômica, política e moral precisa para descambar abertamente para o fascismo. E no dia 11 de janeiro de 2016), tomou posse no Comando da PM de Rondônia o Tenente Coronel Ênedy, após mais uma das campanhas de criminalização e demonização do movimento camponês levada a cabo nos primeiros dias do ano pelos setores mercenários da imprensa de Rondônia, porta-vozes do latifúndio, dos fascistas e também do que alguns chamam de “militares golpistas” (é só acessar quem reproduziu essa campanha sórdida.
O acontecimento, pela forma que se deu, causou estranheza nos círculos políticos de Rondônia. José Carlos Sá, no site “Banzeiros”, em 12 de janeiro de 2016, escreveu:
“Apenas para registrar a segunda passagem de comando da Polícia Militar feita indoor. Uso a expressão estrangeira para continuar achando muito estranho o que está acontecendo com a Polícia Militar. Trocas de comandantes em tempo curto e sem maiores explicações.
A transferência do comando do coronel Prettz para o coronel Kisner foi no gabinete do chefe da Casa Civil, sem a presença do oficial que deixava o posto. Agora, quase seis meses depois e “devido à chuva”, Kisner transmite o cargo ao coronel Ênedy no interior do Prédio de Comando da PM-RO.”
Ênedy, que andava meio no ostracismo depois que, mesmo apoiado pelo latifúndio, foi candidato a deputado estadual pelo PMDB e saiu derrotado e desmoralizado com ridículos 1.170 votos, foi ressuscitado por Confúcio Moura para aterrorizar as massas camponesas com suas declarações que a luta pela terra é crime e deve ser combatida com a Lei de Segurança Nacional, para oficializar o extermínio de lideranças e ativistas que lutam pela terra e para reprimir o povo em geral. Em Porto Velho, mal assumiu o comando, Ênedy mandou a tropa de choque e o GOE atacar covardemente motoristas de coletivo que pacificamente aguardavam uma reunião entre o sindicato e a prefeitura, por conta de um acordo não cumprido que resultou em dezenas de demissões.
Enquanto isso, Nilce de Souza Magalhães a pescadora e ativista do MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens, que estava desaparecida desde o dia 07 de janeiro de 2016, segundo informações divulgadas pela polícia de Rondônia foi assassinada por um “apenado” que teria sido denunciado por ela por furto. Ou seja, ela não foi assassinada porque combatia interesses poderosos, mas por “camponeses matando camponeses”, como é o discurso oficial em Rondônia.
O roteiro do desaparecimento (e possível assassinato) de Nilce é o mesmo dos diversos assassinatos de companheiros da Liga: alguém que esteve num momento ou outro nas áreas de conflito é preso por qualquer delito, repentinamente sai da cadeia e toma parte no assassinato de lideranças.
A situação é grave. As declarações de que os camponeses são “falsos sem-terra” do fascista Ênedy afrontam a própria constituição que reconhece o legítimo direito das massas se organizarem para lutar por seus direitos. Tentar aterrorizar todos os que estão lutando contra a grilagem de terras da União destinadas a reforma agrária, acusar indiscriminadamente de serem “terroristas” os milhares que lutam por seus direitos é ou não é terrorismo,? É ou não é criminalizar a luta pela terra? Ao silenciar sobre o desaparecimento de Nilce, o assassinato de Lucas Silva, os mais recentes e brutais assassinatos de Enilson e Valdino em Jaru, bem como os assassinatos de Renato Nathan, Élcio, Gilson, Terezinha, o desaparecimento de Luiz Carlos, o Comando da PM de Rondônia não está absolvendo os que praticaram estes crimes e mais uma vez, contra a própria constituição federal, decretando a pena de morte por execução sumária em Rondônia? Ou seja, assassinar camponeses não é crime, não é problema, é solução, para essa canalha! E se alguém ainda tiver dúvidas sobre as reais intenções do novo Comandante da PM de Confúcio Moura, mais uma de suas declarações:
“Utilizaremos os policiais que estão de folga, que receberão uma remuneração diferenciada para fazer esse serviço.”
Ou seja: está legalizada a pistolagem! Os assassinos de Enilson (coordenador da Liga) e Valdino, pela sua forma, perseguidos, baleados e arrematados com esmagamento de suas cabeças corresponde ao modus operandi dos grupos de extermínio já denunciados.
Por tudo isso, conclamamos a todas as vozes verdadeiramente democráticas que se levantem contra estes graves acontecimentos. Quem se calar agora, diante de todos estes fatos, vai ser cúmplice da legalização dos famigerados “esquadrões da morte” e grupos de extermínios em Rondônia, e também do fascismo, da criminalização e demonização da luta pela terra. Que as vozes de todo o Brasil se façam ouvir em defesa dos camponeses de Rondônia!






Viva a luta pela terra!


Terra para quem nela vive e trabalha!


Companheiros Enilson e Valdino, presentes na luta!


Fora Ênedy e Confúcio Moura fascistas!






Comissão Nacional das Ligas de Camponeses Pobres






Goiânia, janeiro de 2016

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