Jailson de Souza, Servir ao Povo de Todo Coração.
Das opiniões de uma boa parcela de pessoas ditas de “esquerda” é
muito fácil constatar presente um tipo específico de críticas,
referentes à cisão e ruptura que há entre os vários setores que se
denominam “de esquerda”. Estas pessoas se manifestam contra todos os
debates, contra todas as disputas de influência entre várias concepções
ideológicas diferentes que se apresentam como “de esquerda” – disputa
que é necessária e benéfica –, coisa a que chamam de “discussão/disputa
sectária”, que “enfraquece a esquerda” e “ajuda a direita”; como
solução, pedem o fim da disputa ideológica entre estes vários setores
que se apresentam como “de esquerda” e propõe união de toda a esquerda
para construir um projeto de poder “na mão da esquerda”, uma unidade
contra “o avanço da direita” e todo tipo de disparates simplistas e
reducionistas revestidos de “combate ao sectarismo” e de “união pelo
progresso da esquerda”. Vamos aprofundar essa questão.
Nós, como comunistas, constatamos que existem duas definições distintas para a dicotomia
esquerda-direita: uma que ganha ampla força desde a queda do muro de Berlim (com a chamada
“modernização” da esquerda) e outra que se baseia cientificamente na luta de classes, em suma, uma definição que chamaremos de
cívica ou
moderna e outra que denominaremos
comunista,
proletária ou
ideológica – respectivamente.
Essa tal concepção de esquerda-direita
“cívica” se baseia na seguinte medição: aqueles que são contra as liberdades individuais, preservam valores morais e éticos
“conservadores”
e, em última análise, mantém políticas econômicas que visam os
interesses primários do capital privado em detrimento do bem-estar
social, são
“direita”; aqueles que são a favor das liberdades
individuais, buscam destruir os valores éticos e morais – às vezes não
somente os valores conservadores, mas todo o conceito de
“moral” –
e, também em última análise, preferem uma política econômica voltada ao
bem-estar social, conciliando-o com o atual sistema de propriedade, são
a tal chamada
“esquerda”.
Portanto, segundo essa nova definição distorcida e
“moderna” de esquerda-direita, pode-se considerar que os partidos que levam a primeiro plano os movimentos de minoria e a
“luta”
pelas liberdades individuais, e pregam uma economia destinada ao
bem-estar social (independente de ser propriedade privada, imperialista e
etc.) são considerados
“esquerda”. Por exemplo, o próprio PT e
PCdoB e os pequenos apoiadores de turno de seu governo (PSOL, PSTU, PCO,
PCB, PDT, etc.) seriam de
“esquerda”, porque embora a maioria
deles não lute contra a burguesia e sua forma de produzir as riquezas,
eles levam em consideração primordial as liberdades individuais ou
buscam a conciliação dos interesses de classe (a tal
“política econômica que visa o bem-estar social” –
buscando domar a indomável ganância da grande burguesia e do
latifúndio, além do imperialismo, para conseguir as migalhas suficientes
para acalmar o proletariado e os camponeses) – e isso seria o
suficiente para se definir
“esquerda”, segundo essa visão
“moderna”
(que alguns preferem chamar de pós-moderna, o que não é totalmente
correta, vide que esta lógica já existia antes do fim da URSS e do bloco
socialista nos países do primeiro mundo, só ganhando mais força e se
expandindo posteriormente a tal acontecimento).
Qual é a origem de classe desse conceito? É de origem burguesa. É uma
lógica burguesa que visa criar uma falsa dicotomia que não ameace seus
interesses de classe, do qual os partidos dessa tal
“esquerda” cumprem muito bem.
Já de acordo com a definição comunista e científica de esquerda-direita,
a chamada por nós de definição ideológica para o termo, são outros
quinhentos. Sabendo que não há imparcialidade de classe em nada, a
lógica comunista para analisar tal conceito é assumidamente proletária e
deixa bem claro que vá servir somente ao proletariado e ao cumprimento
da tarefa histórica que recai sobre seus ombros (a revolução). A
régua-medidora à definição de esquerda-direita para os comunistas é
simples: a que classe serve as posições de tal
partido/movimento/indivíduo na luta de classes? Se servem ao avanço da
revolução (consequentemente, ao proletariado), é esquerda; se entravam a
revolução (consequentemente, conscientemente ou não, serve à
burguesia), é direita; se é vacilante entre os dois termos, toma uma
posição centrista, indecisa.
Por exemplo, há alguns partidos denominados
“comunistas” que
abusam da verborragia acerca da luta de classes, mas suas posições não
servem ao avanço da revolução. Estes, nos momentos cruciais, tomam
posições centristas (por exemplo, se unir ao governo lesa-pátria e
antipovo do PT, abandonando a posição de organizar as massas para a
revolução), portanto não se pode qualifica-los como esquerda, da mesma
forma que não são necessariamente de direita: são vacilantes entre
esquerda e direita, ocasionalmente, e por isso são centristas.
Igualmente centristas são partidos
“de esquerda”, que recusam a
alcunha de comunistas e que sequer falam da luta de classes e de
revolução, mas falam sobre liberdades individuais e bem-estar social:
ora tomam uma posição moderada – centrista –, ora uma posição
declaradamente direitista (ex. defender a manutenção desta podre
“democracia” burguesa-latifundiária considerando-a um modelo imperfeito,
mas recuperável, de sistema democrático).
Para compreendermos a dita ruptura da esquerda, a desunião da esquerda e
por aí vai, devemos compreender que nem tudo que se declara esquerda
assim é, nos termos da política comunista, ou seja, na ótica do
proletariado. O que é necessariamente o interesse máximo e histórico do
proletariado? O Poder. Esquerda, portanto, é quem toma posição para o
avanço deste interesse geral; aos que toma parte dos interesses
parciais, por exemplo, aumentos salariais e direitos trabalhistas
enquanto recusa totalmente a questão do Poder, também são centristas.
Porém, há de sabermos utilizar essa medição para cada posição tomada, e
entender que mesmo uma posição direitista pode vir a se tornar, numa
mudança de conjuntura, uma posição legítima de esquerda, assim como
vice-versa – isso é a dialética.
Passaremos agora à famigerada questão da pretendida união de toda a
esquerda. Essa proposta é, quando analisamos, baseado no conceito
esquerda-direita modernizado,
considerando como esquerda o que de fato é centro ou mesmo direita. O
PT é um partido, atualmente, de direita, pelas posições que toma em seu
governo e à hegemonia direitista na luta interna, então abandonando todo
o seu caráter centrista das décadas passadas, que era sustentado pelos
intelectuais pequeno-burgueses do Partido. Portanto, como pode haver
unidade onde não há o mínimo necessário para tal? O que têm em comum,
referente aos interesses, os comunistas revolucionários (a esquerda) e
os centristas? Há uma incompatibilidade no que se refere aos princípios
de cada um: os primeiros pretendem a tomada de Poder por entenderem que
esta é a questão fundamental para a solução das penúrias de causas
históricas; os segundos compreendem que não se é necessário disputar o
caráter de classe do Poder ou a destruição deste velho Estado, mas basta
que se consiga conciliar as partes antagônicas num nível aceitável e
contentável para todos (conter a ganância do imperialismo e classes
dominantes locais para nivelar com os interesses dos operários e
camponeses). Nota-se a incompatibilidade, e isso porque sequer tratamos
profundamente da proposta de unidade com os direitistas fantasiados de
“esquerda” (caso do PCdoB, PT, etc.).
Se há uma incompatibilidade na questão dos princípios, os que propõem a unidade da
“esquerda”
(leia-se unidade de todos os partidos com fraseologia populista com os
comunistas revolucionários) na verdade propõem que abandonemos os
princípios. Se abandonarmos os princípios, não haverá mais firmeza
ideológica, caindo então no ecletismo ideológico (tão presente nos
chamados
“Partidos Comunistas” no Brasil) e rapidamente se terá a
capitulação frente às forças reacionárias ou vacilantes da sociedade
brasileira. Está aí o perigo da união de todos os partidos
“de esquerda” para os comunistas revolucionários.
A máxima destes setores da sociedade brasileira que propõem essa unidade
“de esquerda” é que precisaríamos defender o governo
“de esquerda”
que há no Brasil hoje, encabeçado pelo PT. Perguntamos: onde está esse
governo, que nós não podemos ver, e quem dirá o povo, que sofre
diariamente com os golpes (estes sim, verdadeiros e duros) que o governo
lhe aplica? Caímos novamente naquela definição do o que é esquerda,
questão que já trabalhamos aqui.
Os comunistas revolucionários devem trabalhar para reconstruir o Partido
Comunista do Brasil, revolucionário e ideologicamente firme, guiado
pelo marxismo-leninismo-maoismo e que, sob comando do proletariado,
dirigirá as massas populares para a tomada do Poder, destruição deste
podre Estado e construção dum novo, popular e de nova democrática,
ininterrupto ao socialismo; e jamais perder tempo com a defesa de um
governo direitista de vaga fraseologia (cada vez menos)
“popular”.