Recebemos
na redação do AND este grave comunicado da Associação de
Correspondentes da Imprensa Estrangeira (ACIE), denunciando o
arrombamento do carro de apoio, o roubo de equipamentos de trabalho
(incluindo cartões de memória com imagens e registros de reportagem) e
documentos de membros de sua equipe que realizavam a cobertura do
movimento camponês para revistas estrangeiras. Estes fatos ocorreram
após a polícia se recusar a cooperar com seu trabalho e dizer que a
reportagem "não era bem vinda" a região.
Em
seu comunicado, a ACIE afirma que a "suspeita de má fé só pode ser
reforçada pelas recentes declarações públicas, tanto do chefe da polícia
e do governador, que têm chamado os trabalhadores sem terra de
"terroristas" e "criminosos", pessoas que devem ser “colocadas em seu
lugar" e pelo fato que esta ameaça foi estendida "àqueles que os
apóiam.""
Reproduzimos no blog da redação do AND o comunicado da ACIE, originalmente publicado em http://www.acie.org.br/
Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 2016.
Prezados senhores:
A
Associação de Correspondentes da Imprensa Estrangeira (ACIE) quer
expressar seu alarde e preocupação sobre acontecimentos ocorridos em
Rondônia nesse mês de fevereiro, quando uma jornalista e um fotógrafo
tiveram seus materiais de comunicação roubados, logo depois do governo
do estado ordenar que a polícia não cooperasse com a cobertura que os
profissionais faziam em uma área violenta e politicamente sensível.
Juliana
Barbassa, escritora e jornalista com dupla nacionalidade -brasileira e
estadunidense-, e Bear Guerra, um fotógrafo radicado em Quito, estavam
trabalhando em pautas para as revistas Americas Quarterly e US News
& World Report. A reportagem estava sendo feita em uma região onde
tem ocorrido, recentemente, uma onda de violentas disputas por terras
entre fazendeiros e camponeses sem-terra.
Os
dois estavam há oito dias na região entrevistando e filmando pessoas
locais. No dia 9/02/2016, eles planejavam visitar Ariquemes, a porta de
entrada para a região com a mais alta taxa de homicídios no estado. Na
véspera, eles contataram o chefe da Polícia Militar do Estado de
Rondônia, que estava em Ariquemes. Inicialmente ele concordou em falar.
Mas, antes da entrevista acontecer, um porta-voz do governo do estado de
Rondônia ligou para informar que a polícia tinha sido instruída a não
cooperar porque um relatório internacional sobre o tema teria
“repercussões terríveis para o Estado”. Barbassa respondeu que o apoio
da polícia era essencial não só para concretizar a reportagem, mas
também por questões de segurança. O porta-voz manteve sua posição.
No
dia combinado, Guerra e Barbassa visitaram a delegacia da Policia
Militar em Ariquemes, mas o chefe estava ausente. Sem a cooperação
policial, os jornalistas deixaram o território de risco e viajaram para a
capital do estado, Porto Velho, para encontrar com representantes da
Pastoral da Terra, organização que ajuda campesinos rurais que sofrem
ameaças e mantém estatísticas dos incidentes de intimidação e mortes.
Naquela tarde, quando os dois haviam deixado momentaneamente o carro que
usavam, alguém arrombou o veículo e furtou seus equipamentos, cartões
de memória, arquivos de vídeo e notebooks. Os ladrões também levaram a
bolsa de Juliana Barbassa, onde estava seu passaporte.
A mala do fotógrafo, contendo roupas, passaporte e outros itens e o GPS do veículo não foi furtada.
Independentemente
de quem realizou o furto, e com qual intenção, toda esta situação
despertou a preocupação da Associação de Correspondentes da Imprensa
Estrangeira (ACIE).
Em
primeiro lugar, é altamente preocupante que a polícia tenha sido
aparentemente instruída a não cooperar com os jornalistas, sob o
argumento de temor em relação à repercussão da reportagem na mídia
estrangeira. Essa postura agride os princípios da transparência e também
aumenta os riscos enfrentados pelos jornalistas na cobertura de áreas
perigosas.
Em
segundo lugar, é preocupante que os materiais do repórter e fotógrafo
tenham sido furtados de seu carro. Enquanto não pode ser descartado um
furto oportunista, é notável que outros objetos de valor foram deixados
para trás e que isso tenha acontecido logo depois de as autoridades
informarem a Barbassa e Guerra que a cobertura não era bem-vinda na
região.
A
suspeita de má fé só pode ser reforçada pelas recentes declarações
públicas, tanto do chefe da polícia e do governador, que têm chamado os
trabalhadores sem terra de “terroristas” e “criminosos”, pessoas que
devem ser “colocadas em seu lugar” e pelo fato que esta ameaça foi
estendida “àqueles que os apóiam.”
O
Brasil aspira ser um país com uma imprensa aberta, regida pela lei do
Estado e com forte compromisso com questões de meio ambiente e direitos
humanos.
A
ACIE apóia plenamente os esforços nesse sentido. Mas o recente caso em
Rondônia, com o pano de fundo das frequentes ameaças e assassinatos
sofridos por jornalistas e ativistas locais na região, leva-nos a
questionar o compromisso assumido pelas autoridades no sentido de
sustentar estes princípios em uma sociedade aberta e democrática.
Lembrando
as palavras da Presidenta Dilma Rousseff quando descreveu a liberdade
de imprensa como “a pedra fundadora da democracia,” conclamamos que as
autoridades federais investiguem os acontecimentos e busquem explicações
do oficial do estado que informou sobre a decisão da polícia em não
cooperar. Dessa forma, esperamos que o governo federal viesse reafirmar o
seu compromisso de defender e proteger os princípios da transparência e
da liberdade de imprensa.
Atenciosamente,
Gareth Chetwynd Jon Watts
Presidente, ACIE Vice-presidente, ACIE
Caros sócios e visitantes,
Em
seus 53 anos de existência a ACIE acompanhou enormes mudanças no
Brasil, mas manteve o seu foco ao facilitar o trabalho dos sócios,
oferecendo estrutura para uma relação dinâmica com autoridades,
instituições e protagonistas da história brasileira.
Para
conhecer suas origens, é preciso recuar até a década de sessenta do
século passado e acompanhar a criação do Clube dos Correspondentes de
Imprensa Estrangeira – gênese da atual associação.
Ao
longo desses anos, cada correspondente contribuiu de alguma forma ao
contar a história dessas mudanças, com graus diferente de objetividade e
subjetividade, criando uma denso tecido de fatos, interpretações e
nuances.
O
Brasil é um país onde há grande curiosidade sobre o olhar estrangeiro.
Percebe-se um grande fascínio e interesse em observar e focalizar o
olhar do observador de fora (que nós somos), e saber o que estes pensam.
Ser
estrangeiro traz desafios em qualquer país, e ser jornalista desafios
especiais. E o Brasil, certamente, é um bom lugar para ser
correspondente, com belos horizontes em paisagens sem fim, um povo
culturalmente rico e extremamente hospitaleiro e uma miríade de pautas
para os jornalistas se debruçarem.
O
papel desempenhado por uma associação de correspondentes muda com o
tempo e as novas tecnologias; a facilidade com que podemos atuar em rede
aumenta a sensação de autonomia de cada correspondente.
Esta
independência não diminui o valor do colegiado tradicional, que oferece
mais força e presença na hora de trazer autoridades e um meio efetivo
para realizar atividades e eventos.
Portanto,
conclamamos a todos a usufruir da ACIE, trazendo demandas novas e
participando de nossas atividades, oferecendo também possibilidades para
confraternização.
Nas
próximas semanas, este website passará por uma reforma que, depois de
concluída, trará mais vantagens em termos da canalização dos links e
tweets das matérias feitas por correspondentes e promoverá
compartilhamento de dados e conteúdos, seguindo nossa meta de facilitar o
trabalho de todos.
Para
encerrar, dedico este site a Carlos Tavares de Oliveira, um dos maiores
apoiadores, e sócio de honra excepcional, cuja dedicação e amor para a
ACIE ajudou a associação a sobreviver e prosperar.
Um abraço.
Gareth Chetwynd
Presidente
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