Mais um ativista camponês é assassinado
em Buritis
Jaru, 4 de maio de 2015
Na noite do dia 1º de maio, Paulo Justino Pereira
foi assassinado a tiros, no Projeto Rio Pardo. Ele era o presidente da Associação Vladimir Lênin. Paulo participou da reunião do dia 27 de
abril, em Jaru, onde camponeses de várias áreas de Rondônia se reuniram com
representantes do Incra, Eletrobrás, DER, secretaria de obras, lutando por
energia, estradas e pontes, escolas nas áreas e regularização das terras dos
camponeses. Ele foi o secretário desta reunião e apresentou a
reivindicação de energia para as 3 mil residências do Projeto Rio Pardo,
prometida há 16 anos.
Nos dias 29 e 30 de abril, Paulo participou com
outros camponeses de uma reunião em Porto Velho com o Sr. Gercino José, ouvidor
nacional dos latifundiários. Ele denunciou a situação de centenas de famílias
de Rio Pardo, há dois anos sem solução. Como diz um boletim da Associação
Lênin:
“Já fazem dois anos da desocupação violenta da
Flona pelas forças armadas da presidente Dilma e do Governador Confúcio Moura.
Durante esse período, nenhum tipo de assistência foi dado às famílias
residentes no Rio Pardo. Das trezentas que foram desalojadas, apenas 34 foram
assentadas, e de forma equivocada, em outras terras conflitosas, de propriedade
do fazendeiro ‘Zoinho’. Com a morosidade do Governo Estadual em resolver o
problema, as famílias já se preparam para o retorno à reserva, ‘dessa vez para
ficar’”
A reunião foi tensa e terminou sem acordo. Paulo
comunicou a decisão das famílias de Rio Pardo de retomarem suas terras, e como
sempre, Gercino não apresentou nenhuma solução e ainda disse: "O Sr. quer
dizer que as famílias irão descumprir uma ordem?" Paulo defendeu que o
velho Estado é que não cumpre o direito legal e sagrado à terra para quem nela
trabalha.
Paulo Justino nasceu em Pernambuco, morou no
Rio de Janeiro e veio para Rondônia para ajudar a luta camponesa, causa
tão perigosa, mas tão urgente e justa. Ele deixou três filhos e três netos
e será enterrado em Maceió, na manhã do dia 6 de maio.
Buritis: palco de violência do latifúndio contra os
camponeses
Dia 9 de abril de 2012, o líder camponês Renato
Nathan foi assassinado em Jacinópolis, provavelmente por policiais e até hoje
nada foi investigado, ninguém foi punido. No dia 28 de novembro passado, o
camponês Luis Carlos da Silva foi sequestrado, provavelmente por pistoleiros em
Monte Negro. Ele lutava por um pedaço de terra e a polícia só iniciou as buscas
depois que parentes denunciaram na imprensa e bloquearam uma rodovia estadual
por várias horas.
No último 27 de janeiro, foi assassinado José Antônio
dos Santos, ex-morador do acampamento “10 de maio”. Quem se diz dono destas
terras é Caubi Moreira Quito, que em dezembro passado prestou depoimento para o
delegado da Polícia Civil de Ariquemes assumindo que pagou três policiais para
fazerem segurança da área.
O latifundiário João Neuto Saul Guerin, morador de Foz do Iguaçu, contratou pistoleiros
e os armou fortemente para atacar camponeses que
tomaram as terras que ele diz serem suas. Mas são terras públicas, que João
Guerin grilou. Sua advogada admitiu em petição para a justiça que dez homens fortemente armados estavam fazendo
segurança privada da área. No início de
abril, apenas 6 pistoleiros foram presos e nada aconteceu com o latifundiário.
Já os camponeses, foram despejados pela polícia militar, no último dia 27, numa
ação completamente arbitrária: até menores de idade foram algemados, não havia
ambulância nem caminhão para transportar os pertences das famílias e os camponeses Luciano da Silva Coelho, José
Félix Gonzaga e Claudimiro Matias da Costa foram presos pela polícia civil sob
alegação de porte ilegal de armas.
Há mais de vinte
anos o Incra criou assentamentos da reforma agrária nas Glebas Rio Alto e São
Sebastião, que somam aproximadamente duzentos mil hectares e se estende por 7
municípios: Governador Jorge Teixeira, Campo Novo de Rondônia, Buritis, Monte
Negro, Cacaulândia, Jaru e Mirante da Serra. As terras chegaram a ser cortadas
pelo INCRA em pequenos lotes de 50 hectares e poderiam atender até 4 mil
famílias. Mas nenhum camponês foi assentado. Comentam-se na região que
funcionários corruptos do Incra davam orientações a latifundiários e
fazendeiros grileiros. A maior parte delas hoje é latifúndio ou fazenda (média
propriedade).
Gercino e Dilma têm as mãos sujas de sangue camponês
Todos estes fatos já foram amplamente denunciados e
são de conhecimento do Sr. Gercino José. Ele já organizou reuniões e mais
reuniões da comissão paz no campo, mas na prática, nenhum latifundiário é
punido. Esta omissão cúmplice faz crescer a sanha dos latifundiários contra os
camponeses. O assassinato de Paulo Justino repete o já mil vezes denunciado “ROTEIRO DA MORTE”, em que camponeses
vão aos representantes do Estado (entre os quais está quase que invariavelmente
presente o Desembargador Gercino), denunciam as ameaças, cobram a regularização
de suas posses e depois são assassinados vítimas de tocaias.
A reforma agrária prevista na constituição nem
poderia ser chamada de reforma de tão atrasada que é. Nem isto a gerência
petista cumpre. Lula e Dilma assentaram menos famílias que o bandido FHC e
ainda aumentaram a repressão contra aqueles que lutam pela terra. Agora é
normal tropas da Polícia Federal, Força Nacional de Segurança e até o Exército
apoiarem a PM na prisão de camponeses e no despejo de famílias acampadas e
posseiras. Latifundiários seguem impunemente contratando bandos armados e
policiais para serviço de pistolagem. Nos últimos 12 anos aumentou o número de
lideranças camponesas assassinadas.
Mas nem toda violência do mundo consegue acabar com
a necessidade legítima dos camponeses por terra. O latifúndio é o que existe de
mais atrasado no Brasil e a luta combativa, organizada e independente de bravos
camponeses segue tomando terras e ganhando o apoio de apoiadores honestos como
Paulo Justino. Pessoas que ousam enfrentar este sistema podre são a esperança
da construção de um mundo novo.
O povo quer terra, não repressão!
Morte ao latifúndio! Viva a Revolução
Agrária!
LCP - Liga dos Camponeses Pobres de
Rondônia e Amazônia Ocidental
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