‘Araguaia, presente!’: um importante filme para desmascarar o oportunismo
Do ponto de vista do regime militar-fascista, a produção de Araguaia, presente! desmistifica e expõe o fato de que Geisel não só sabia dos assassinatos, como de fato chamava para si o monopólio da autorização das execuções. A dita “abertura lenta, gradual e segura” não comportava uma duplicidade de mandos militares na repressão aos inimigos do regime. Daí a demissão do general Dilermano, comandante do II Exército, e a prisão do general Silvio Frota, após as mortes de Manoel Fiel Filho e de Vladimir Herzog.
Os diálogos entre Geisel e o general Bandeira são bastante elucidativos da centralização do mando militar em Geisel.A coleta de depoimentos de ex-guerrilheiros, dentre eles alguns renegados, contribui para o entendimento do porquê João Amazonas se recusou a fazer uma avaliação autocrítica da guerrilha. O depoimento de Danilo Carneiro, sobrevivente da guerrilha, acusa claramente a direção do PCdoB, à época, de traição ao mudar radicalmente a linha do Partido após a queda da reunião do Comitê Central do partido, episódio conhecido como o Massacre da Lapa, ocorrido na cidade de São Paulo, 16 de dezembro de 1976. Nesta operação, comandada pelo delegado Fleury, foram mortos os dirigentes Pedro Pomar, Ângelo Arroyo e João Batista Drumond; os dois primeiros foram covardemente chacinados no local da reunião e o terceiro na tortura.
Pedro Pomar e Ângelo Arroyo, com posições divergentes, buscavam as causas da derrota sem, entretanto, negar a teoria da guerra popular, senão buscando retomá-la. Arroyo defendia que a derrota de deveu a erros de ordem militar, enquanto Pomar ia mais fundo acusando a direção de haver cometido erro de concepção que contrariava o próprio documento do partido que orientava aquela luta, o documento Guerra Popular, caminho da luta armada no Brasil. Esse aspecto fundamental sobre o balanço, entretanto, não fica evidente no filme e, entre outras limitações, leva a uma interpretação pouco abrangente da crítica de Pedro Pomar e elude sua conclusão: a necessidade da autocrítica para retomar a guerra popular.
Outro ponto negativo, mas que não chega a comprometer, é uma certa ênfase nas cenas de tortura. Ainda que haja uma cena que demonstra a altivez dos prisioneiros após uma sessão de tortura, há uma prevalência do sofrimento das vítimas de tais sevícias e não se expressa o valor e firmeza da maioria das guerrilheiras e guerrilheiros que seus próprios carrascos tiveram de admitir e fazer públicos (acusando-os, claro, como se tratasse de “fanáticos incorrigíveis”).
A discussão da retomada da luta armada como futuro da Revolução é esboçada nas severas críticas de parte da militância à direção do PCdoB, na execução dos militares e principalmente na reorganização do Partido através do abandono da linha revolucionária da guerra popular trocada pela linha do oportunismo eleitoreiro.
Ao destacar a bandeira da luta pela terra e finalizar com uma manifestação do movimento camponês revolucionário, aponta os rumos da retomada da luta revolucionária.
O filme, mesmo em suas limitações, cumpre importante papel em trazer para a realidade atual, a oportunidade para o debate que havia sido soterrado pela avalanche oportunista eleitoreira que arrebatou a “esquerda” no país. O debate sobre os desvios, renegação e traições que estão na base e são as causas das ilusões de muitos e a responsabilidade de tantos outros pelo que culminou no fracasso vergonhoso do atual PCdoB, proporcionando o ambiente para a ofensiva da direita e da extrema direita, além da onda reacionária e anticomunista do cenário político de hoje.
Para aqueles que se preocupam em buscar saídas fora do campo do oportunismo eleitoreiro, o filme merece ser assistido, mas também debatido para evidenciar os aspectos teóricos e práticos dos rumos da revolução brasileira.
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