Nos
dias 27 e 28 de setembro ocorreu em Jaru o 6º Congresso da Liga dos
Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental. Pichações nos muros
convidavam a população da cidade e davam as boas vindas às delegações
dos quatro cantos do estado e de outras regiões do país. Uniram-se
camponeses posseiros, que já estão vivendo e produzindo em seus lotes,
camponeses acampados, que estão resistindo a ataques de pistoleiros e
polícias, e camponeses sem terra, que estão sofrendo o desemprego ou
subemprego nas cidades. O Congresso é a instância máxima de decisão da
LCP e serve para debater, trocar experiências, unir mais o movimento
camponês combativo, traçar o plano de lutas, enfim, fazer crescer a luta
sagrada pela terra.
Também participaram representantes de
movimentos democráticos e populares como a Liga Operária, Sindicato dos
Trabalhadores da Construção Civil de Belo Horizonte, MEPR – Movimento
Estudantil Popular Revolucionário, MFP – Movimento Feminino Popular,
Cebraspo – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos, Abrapo –
Associação Brasileira dos Advogados do Povo, Renap – Rede Nacional de
Advogados e Advogadas Populares, Moclate – Movimento Classista dos
Trabalhadores da Educação, Escola Popular. Foram lidas saudações de
outras entidades de luta que não puderam estar presentes. Uma
participação especial foi de uma advogada popular do México, que está no
Brasil pesquisando sobre a luta pela terra. Os participantes do 6º
Congresso testemunharam o internacionalismo proletário, laços
invisíveis, mas inquebrantáveis que unem trabalhadores de todo o mundo
numa só luta.
Revolução Agrária, esperança de verdadeiras transformações no Brasil
Os movimentos destacaram a necessidade de unir todas as classes populares e que a revolução brasileira começará no campo.
A Revolução Agrária avança nos rincões
do Brasil e é a luta mais importante do país, pois combate o latifúndio,
o que existe de mais atrasado, que oprime os camponeses e médios
proprietários, só gera atraso nas cidades e subjuga nossa nação aos
imperialistas, especialmente os Estados Unidos.
Manifestação inédita pelo boicote à farsa eleitoral
O
6º Congresso da LCP foi aberto com uma calorosa manifestação contra a
farsa das eleições pelas ruas de Jaru. Os manifestantes se organizaram
em filas, exibiram faixas, agitaram bandeiras e cartazes, gritaram
palavras de ordem e entoaram canções de luta. Jovens carregaram tochas
de fogo que iluminaram o protesto, ocorrido à noite. Em frente ao maior
supermercado da cidade, um grupo queimou cavaletes de candidatos. O ato
chamou a atenção dos trabalhadores dos comércios e da população. Motos e
carros buzinavam em sinal de apoio. Os manifestantes representavam o
sentimento da maioria do povo brasileiro que cada dia mais repudia as
eleições podres e corruptas.
A Santa Elina é dos camponeses!
A LCP sempre reverencia os bravos
camponeses da heroica batalha de Santa Elina, ocorrida em 1995, pois
guarda as melhores tradições de luta do povo brasileiro, daqueles que
sabem que não é possível reformar este sistema podre e que os direitos
do povo, especialmente a terra para quem nela trabalha, só será
conquistado com luta dura. Para a Liga, a Batalha de Santa Elina é uma
luz que guia a luta camponesa.
Desde sua fundação, em 1999, a LCP fez o
compromisso de retomar a fazenda Santa Elina, em Corumbiara. Diferente
dos políticos eleitoreiros que só prometem, os bravos camponeses da Liga
cumpriram sua palavra em 2010, quando tomaram parte da fazenda,
cortaram e distribuíram para famílias. É o povo fazendo justiça.
Defender a posse de todas as terras pelos camponeses
Vários
camponeses presentes no 6º Congresso são posseiros, ou seja, ainda não
têm o documento de propriedade, mas vivem e trabalham na terra faz
muitos anos. Eles lutam pela regularização para se verem livres da
ameaça constante de despejo, nem tanto para conseguirem financiamentos,
pois inúmeros são os casos de camponeses obrigados a vender seus lotes
por não conseguirem saldar suas dívidas nos bancos. Por experiência
própria ou de outras famílias, empréstimos sem apoio para a produção
camponesa e sem uma política de preço mínimo é ilusão.
Outra importante luta é pelo direito à
energia. Só em Rondônia, quase vinte mil famílias vivem no escuro,
segundo recente levantamento feito por várias entidades rurais. É uma
vergonha para um estado onde estão sendo construídas duas grandes usinas
hidrelétricas, financiadas com recursos públicos e que gerará energia
para empresas estrangeiras que funcionarão em São Paulo. Milhares de
camponeses e trabalhadores tiveram suas terras alagadas e casas
destruídas e mais de 40 operários já morreram nas obras, devido às
péssimas condições de trabalho.
A produção camponesa não tem ajuda
nenhuma de governo algum. Ao contrário, recentemente está sendo cobrado
uma taxa para os camponeses transportarem porco e galinha para comércio,
fiscais estão proibindo a venda de vários produtos tradicionais em
feiras livres alegando falta de higiene, não é permitido o transporte de
botijas de gás e galões de gasolina. Tudo para dificultar a vida no
campo. E depois, os camponeses ainda são difamados: “Sem-terra são todos
vagabundos, só pegam terra para vender!” Mas os monopólios de
comunicação não denunciam que os posseiros não têm assistência técnica,
têm poucos maquinários, as estradas e pontes são péssimas, não têm
postos de saúde e as escolas são longe da residência dos alunos.
É um grande desafio aos camponeses que
já estão em seus lotes manter a união e organização da época do
acampamento, pois só coletivamente é possível ao povo resolver todos
seus problemas.
Crescem as tomadas de terra do latifúndio
Nos últimos anos têm crescido o número
de tomadas de terra em Rondônia. Segundo a Liga, isto se deve ao aumento
do desemprego com a diminuição das obras das usinas Santo Antônio e
Jirau e devido à crise econômica geral que o país está enfrentando.
Outra causa é a falência da reforma agrária do governo, nos 12 anos de
gerenciamento petista o Incra assentou muito menos que a gerência FHC
(PSDB).
Chupinguaia, Ariquemes, Buritis, Alto
Paraíso, Monte Negro e Cujubim estão agitadas por tomadas de terra. E a
LCP aproveitou o 6º Congresso para anunciar novas grandes tomadas de
terra na região.
Povos indígenas e camponeses: mesmos inimigos, mesmos objetivos
Uma das participações mais importantes
do Congresso foi de uma ativista que dedicou grande parte de sua vida ao
apoio e à luta junto dos povos indígenas. A LCP considera muito
importante unir com estas populações que há mais de 500 anos resistem à
expulsão de suas terras e ao massacre sistemático.
PT – amigo dos latifundiários e inimigo dos camponeses
Muitos
camponeses votaram no Lula porque ele prometia dar terra. Mas nos 12
anos que o PT esteve na cabeça do velho Estado brasileiro cresceu a
violência contra os camponeses. Passou a ser comum tropas da Polícia
Federal, Força Nacional de Segurança e até do Exército apoiando e
executando despejos violentos de acampamentos. Lideranças combativas são
difamadas pelos monopólios de imprensa e por dirigentes do MST e
Fetagro, são perseguidas e presas. Atualmente, mais de 20 camponeses
estão presos em Rondônia por lutarem pela terra. Número mais absurdo é o
de camponeses assassinados em conflitos agrários, que cresceu na
gerência petista. Inclusive, o 6º Congresso aprovou uma moção de repúdio
ao delegado Lucas Torres, responsável pela investigação do assassinato
do líder camponês Renato Nathan. Em resposta à Comissão de Direitos
Humanos da Câmara Federal dos Deputados, recentemente, ele afirmou que
Renato era um bandido e foi o único responsável por sua própria morte, e
que eram falsas todas as afirmações dos camponeses sobre Renato.
Outro caso gravíssimo foi o sequestro,
ameaça de morte e tortura dos camponeses Daniel e Paulo, cometidos
pessoalmente pelo latifundiário Heládio Senn, em Chupinguaia. Após ampla
campanha de denúncia por movimentos democráticos de todo país, os
trabalhadores foram resgatados com vida. O fazendeiro chegou a ser
preso, mas foi solto no dia seguinte. Apesar dos camponeses terem visto
armas pesadas a polícia apreendeu na fazenda apenas 3 armas velhas. A
ação da polícia foi só um teatro para justificar para a opinião pública o
despejo dos 60 camponeses, ocorrido em seguida. Tamanha injustiça e o
Ouvidor Agrário Nacional Sr. Gercino da Silva não disse uma palavra, não
escreveu sequer um ofício.
Daniel e Paulo participaram do 6º
Congresso e deram seus depoimentos. Eles agradeceram a todos que lutaram
para que eles fossem encontrados com vida, disseram que não vão
abandonar a luta e que estão se preparando com as demais famílias para
retomarem as terras do grileiro Nego Zen.
Avança a Liga por todo o Brasil
Uma parte importante do Congresso foi a
homenagem a pioneiros da LCP de Rondônia e Amazônia Ocidental. A Liga
sempre prezou por resgatar suas origens, que são as Ligas Camponesas da
década de 60 e mais recentemente, os bravos combatentes da Batalha de
Santa Elina. Para que a luta avance, é fundamental unirmos a experiência
dos mais velhos com a vitalidade dos mais novos. Os homenageados deram
depoimentos emocionados, encorajando os presentes a fazerem avançar a
Revolução Agrária e a LCP.
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