Há 21
anos atrás, no dia 9 de agosto de 1995 ocorreu a Batalha de Santa Elina, também
conhecida como Massacre de Corumbiara. 600 famílias camponesas sem terra
montaram acampamento para conseguirem o sagrado direito à terra para nela
viverem e trabalharem. Antenor Duarte, latifundiário vizinho, organizou outros
grandes fazendeiros, contratou e armou pistoleiros e ordenou o ataque brutal
contra os trabalhadores. Policiais da PM e do COE fortemente armados atacaram o
acampamento de madrugada, juntamente com pistoleiros. Os camponeses resistiram
bravamente com as armas que tinham: paus, foices e espingardas. Depois de
rendidos, foram humilhados, espancados, torturados e executados. Vários
camponeses foram assassinados ou morreram dias depois, outros desapareceram,
dentre os assassinados estava a menina Vanessa, de apenas 7 anos. A maioria dos
trabalhadores tem sequelas até hoje e muitos morreram ao longo destes 21 anos
por doenças que poderiam ter sido evitadas ou tratadas, caso as famílias
tivessem recebido indenização e tratamento de saúde adequado.
Na
época, a heroica resistência em Corumbiara teve grande repercussão no país e no
exterior, o que obrigou o governo FHC a “assentar” parte das famílias. A
direção oportunista da CUT e PT/RO que traficava com os interesses das famílias
de Santa Elina aceitou a proposta do governo de dividir as famílias em 3 áreas,
sendo todas fora da Santa Elina. Assim uma parte das famílias foi para Rio
Preto, próximo de Porto Velho, outras para Guarajús na região de Corumbiara e a
maior parte para a região onde hoje é Palmares do Oeste.
O
Estado brasileiro foi condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos por
esta barbaridade, mas a justiça não foi feita. Numa farsa de julgamento, dois
líderes camponeses e dois soldados da Polícia Militar foram condenados e
presos. Em 2015, numa audiência com os camponeses de Santa Elina sobre
indenizações, um juiz teve a cara de pau de dizer que não houve massacre e que
os crimes já prescreveram. Até hoje os maiores culpados seguem impunes: José
Ventura Pereira, tenente-coronel que comandou as tropas assassinas; capitão
Mena Mendes, era comandante do batalhão de Vilhena, foi promovido; Valdir Raupp
(PMDB), governador na época e comandante geral da PM; Antenor Duarte,
latifundiário mandante que sequer foi a julgamento; e não podemos deixar de
citar o Major Hélio Cysnero Pachá que comandou o COE, durante a ação e foi
promovido, hoje é coronel da PM e segue comandando a repressão ao povo. Nesses
dias está a frente da repressão (através do gabinete de integração da SESDEC)
às famílias que ocuparam o latifúndio Bom Futuro em Serigueiras, e quer agora
21 anos depois, repetir o que fez em Corumbiara em 1995.
Em
2010, finalmente os camponeses começaram a fazer justiça. Após uma tentativa
frustrada em 2008, famílias organizadas pela Liga dos Camponeses Pobres e o
CODEVISE (Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina) conseguiram retomar mais
da metade da fazenda Santa Elina cumprindo uma promessa antiga ratificada em
todos os congressos da LCP. Foi uma grande vitória, uma conquista histórica do
movimento camponês brasileiro. E como tudo na vida do povo, só foi possível com
muita luta. Os camponeses cortaram as terras por conta e distribuíram entre si
através do Corte Popular. Rapidamente, cada família ocupou seu lote e começou
as plantações e criações, construíram casas, estradas e pontes, tudo com seus
próprios esforços. Quando o Incra apareceu, só deu prejuízos. O superintendente
na época, Carlino Lima, do PT, prometeu mundos e fundos para as famílias saírem
da área, mas não cumpriu nada. Desconsiderou o corte realizado pelas famílias,
fez um novo corte, diminuindo o tamanho e mudando o sentido dos lotes.
Carlino/PT e dirigentes de movimentos oportunistas espalharam mentiras e
calúnias contra lideranças camponesas combativas, gerando confusão,
desconfiança, desunião e desânimo entre os camponeses e causando a prisão
injusta de um trabalhador, por 9 meses. Mesmo com tudo isto, as famílias nunca
deixaram de resistir e trabalhar. Criaram associações, aumentaram a produção. A
antiga fazenda Santa Elina, hoje áreas Renato Nathan, Zé Bentão, Alzira
Monteiro, Alberico Carvalho, Maranata, tem cerca de 800 famílias vivendo e
trabalhando nos seus lotes. E prosseguem a luta, aumentando sua união e
organização. Os comerciantes de Corumbiara, Chupinguaia e Cerejeiras sempre
agradecem aos camponeses, pois a retomada da fazenda Santa Elina e a maior
presença de camponeses ajuda a desenvolver a economia da região.
Em
1995, a maior parte das terras estava concentrada nas mão de um punhado de
latifundiários e ricaços. De lá pra cá essa situação piorou. No gerenciamento
de Lula/Dilma/PT aumentou a concentração da terra, e o latifúndio expandiu
cerca de 100 milhões de hectares, o dobro de todo o período do gerenciamento
dos militares e 5 vezes mais que FHC. No gerenciamento do oportunismo foi
colocada uma pedra em cima da já falida reforma agrária do governo, e como
nunca antes se viu, intensificou a criminalização, repressão e assassinatos de
camponeses e indígenas. E agora o gerenciamento tampão de Temer (PMDB) dá
continuidade e agrava essa situação. O próprio superintendente do Incra em
Rondônia afirmou que não há dinheiro para a falida reforma agrária, e que o
Incra não tem nem 1 centímetro de terra para “assentar” famílias. Mas por outro
lado segue de vento em polpa as “regularizações” de terras da União roubadas
pelos grileiros latifundiários (através do “Terra Legal”). Isso é parte de uma
grande armação para entregar as terras brasileiras para o imperialismo, como
vem sendo divulgado como medida para combater a crise. Sabem que os camponeses
brasileiros, indígenas e quilombolas, verdadeiros donos destas terras, vão
impor uma feroz resistência para defender o Brasil e seu único instrumento de
trabalho, a terra, por isso não economizam e gastam rios de dinheiro com a
repressão (veja o que estão fazendo agora nas olimpíadas) e realizam todo tipo
de ataque as lideranças e organizações da luta camponesa, principalmente as
mais combativas.
Em
Rondônia está mais que provado que grupos de pistoleiros juntamente com
policiais agem impunemente ao arrepio da lei como bandos armados, encorajados e
acobertados por esse velho e desmoralizado Estado. Em Seringueiras, enquanto a
polícia realiza verdadeira operação de guerra contra famílias camponesas, latifundiários
estão agindo como verdadeiras quadrilhas, organizando bandos paramilitares,
contratando pistoleiros e fazendo todo tipo de ameaça aberta e impunemente.
Há 21
anos atrás, os latifundiários queriam aterrorizar os camponeses e parar a luta
pela terra com um banho de sangue, mas foi em vão. As tomadas de terra
continuaram, com mais organização e mais preparação. Aquela batalha despertou a
atenção de operários, professores, outros trabalhadores e estudantes em luta
para a importância e urgência da luta camponesa. Trabalhadores da cidade e do
campo se uniram, fizeram um balanço profundo desta experiência e tiraram
importantes lições. A heroica Batalha de Santa Elina deixou claro os dois
caminhos para a luta camponesa, de um lado, o caminho da conciliação, do
pacifismo, da negociação, da reforma e das eleições podres e corruptas, onde
não conseguimos nada além de migalhas. De outro lado, o caminho da luta
combativa e da organização independente, único caminho para a conquista da
terra.
Hoje,
mesmo com os ataques sistemáticos do latifúndio e do velho Estado os camponeses
estão ainda mais dispostos a persistir no único caminho possível para
conquistarem um pedaço de terra, o caminho encetado pelos camponeses de
Corumbiara, o caminho da Revolução Agrária tomando todas as terras do
latifúndio, entregando a terra a quem nela vive e trabalha, cortando por conta
e distribuir os lotes entre si, produzindo de forma cada vez mais cooperada e
decidindo coletivamente, em Assembleias Populares, tudo o que lhes diz respeito.
Este é o início de uma grande revolução que vai mudar verdadeiramente o país,
conquistar os direitos do povo, justiça e uma verdadeira democracia.
Honra
e glória aos heróis de Corumbiara!
Tomar
todas as terras do latifúndio!
Viva a
Revolução Agrária!
LCP –
Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia e Amazônia Ocidental
No hay comentarios:
Publicar un comentario